É um erro achar que a Rússia considera o conflito com a Ucrânia mais longo do que o esperado.
- Thiago Barbosa
- Mar 14, 2022
- 3 min read
Entenda que os russos estão sim preparados para enfrentar um conflito muito mais duradouro do que se pensa.

Alguns canais consideram que os russos estão surpresos com a resistência ucraniana ou com o apoio ocidental, além da demora na derrubada de Zelensky. Contudo, essa leitura pode estar equivocada. Como bacharel em Rel. Internacionais, formado com excelência e já produtor de artigos e pesquisas na área de defesa, ex-militar, darei minha contribuição e comentário a respeito.
Primeiro é preciso entender que Vladimir Putin não esperava invadir e derrubar o governo eleito da Ucrânia de forma rápida em questão de dias. Esse pensamento obviamente é traçado por aqueles que são contrários ao regime russo e desejam passar a ideia de que o líder russo cometeu um erro estratégico. Primeiramente, para uma análise precisa, é preciso tomar como premissa a verdade que desmonta o seu próprio argumento. Nesse sentido, considerar-se-á como verdade que Putin não esperava a resistência ucraniana e também não esperava levar tanto tempo para derrubar Kiev.
Ao se preparar para um conflito, o líder precisa pensar na maior parte dos cenários possíveis, em especial, cenários mais desfavoráveis. Ainda considerando o histórico de Putin como ex-KGB, e excelente estrategista, ele deve ter pensado nessa questão de fato e se preparado. Então, não é possível alegar (por essa ótica) que Putin teria sido "pego de surpresa" com a resistência da Ucrânia. Esse argumento é até facilmente derrubado pelos próprios russos que, mesmo antes da guerra, alegaram que havia uma crescente utranacionalista no meio da sociedade ucraniana. Com o sentimento do nacionalismo em alta, não faria sentido acreditar que a invasão do território da nação seria aceita sem resistência.
Feita essa análise, agora pode-se prosseguir para o fato que se quer observar: Putin não foi pego de surpresa. Primeiro basta olhar o histórico de conflitos recentes envolvendo outras potências militares. Quando os EUA atacaram o Iraque em 2002, levaram quase 1 mês para depor um governo bem mais débil e sem apoio. A "guerra ao terror" contra a Al Qaeda (que nem estrutura de Estado possuía) levara anos. Assim, alegar que os russos esperavam uma invasão rápida e decisiva em questão de dias é um erro de análise considerável. E ao juntar isso com o fato de que russos não estão empreendendo o ataque com todas suas forças, com relatos do uso de tanques mais antigos e sem o emprego total da sua força infante, a tese fica seriamente prejudicada.
Ora, mas se Moscou não esperava uma guerra que terminasse com a capitulação do inimigo em dias, e nem foi pego de surpresa pela resistência, então por que invadir? Putin deixou claro sua posição no discurso da véspera do início do combate, ao considerar os erros do passado dos soviéticos. Para o líder russo, a Ucrânia é um Estado artificial desde sua gênese (feito para agradar grupos em nome da URSS), e que se aproximou demais da Europa e dos EUA, o que exporia a maior fronteira europeia russa à OTAN. Provavelmente, (e isso é apenas uma análise rasa) Putin deseja, ou criar um Estado tampão para proteger sua fronteira da OTAN (por isso a criação do "bode ultranacionalista" na Ucrânia), ou derrubar Kiev e colocar um governo alinhado com Moscou para evitar o avanço da aliança ocidental sobre o território. Qual das opções é a correta? Só o tempo dirá.
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