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Xadrez Global: A invasão eurasiana no quintal dos EUA.

Como a América do Sul está em disputa por duas forças geopolíticas e por que, até o presente momento, os eurasianos estão na vantagem?

A América do Sul é um dos últimos rincões de abundantes riquezas do mundo. Florestas exuberantes e preservadas, riqueza mineral vasta, a maior reserva de petróleo comprovada em um dos focos de tensão atual da região: a Venezuela. Além de todas essas riquezas, a região é disparada com a maior reserva de água potável do planeta através de uma rede vasta de rios caudalosos, além de aquíferos subterrâneos imensos, como o Aquífero Guarani (o maior do mundo).


Uma região assim não ficaria muito tempo sem ser disputada. Ao longo do século XX, países disputaram e exploraram o Oriente Médio, a África, até alguns países asiáticos, deixando o subcontinente sul-americano mais pacato. Há teorias que dizem que isso foi proposital como uma reserva de recursos, porém, ao que se vê nos últimos acontecimentos, essa realidade pode estar para mudar.


A ascensão chinesa como nova potência capaz de fazer frente aos EUA, e a aliança com a Rússia (provocada por erros estratégicos de Washington com os russos), levou a uma nova disputa de hegemonia global. E, assim como os EUA são capazes de atuar em qualquer região do planeta, os chineses e russos estão se provando igualmente capazes. E isso está se demonstrando nos acirramentos de disputas nos países da América do Sul.


Atualmente, dezembro de 2023, há a seguinte configuração: Brasil (o principal país da região), Venezuela, Bolívia em alinhamento franco com russos e chineses, porém há também o Chile, Argentina (trocando de governo recentemente) e a Colômbia que são aliados mais próximos aos norte-americanos. Há outros países regionais, como Uruguai, Paraguai, Peru, que são mais não alinhados, porém em muito são reféns da política externa ou de Brasil, ou de Argentina.


Mas falar meramente de países não traz uma visão completa da configuração geopolítica. A América do Sul possui um histórico de pertencimento ao chamado "quintal geopolítico" dos EUA. Essa tradição trouxe (e ainda traz) muitos desafios para uma interferência sinorrussa na região. Contudo, aplicando estratégias de compra de empresas, aparatos estratégicos como portos, estradas, ou até instalando bases na região, os eurasianos estão conseguindo aos poucos ganhar terreno, e hoje estão na vantagem.


Por que há essa vantagem? Primeiro pelo alinhamento do principal governo da região, o governo brasileiro com russos e chineses. A despeito da interferência americana para a vitória do atual Presidente Lula, o Brasil virou as costas para todo esse apoio e vem se distanciando cada vez mais de Washington. Vide as falas de Lula, atitudes diplomáticas como não apoiar Israel na guerra contra os terroristas do Hamas, não comparecer à posse de Javier Milei (direitista eleito na Argentina que promete dolarizar a economia), e a dependência econômica brasileira para com os chineses.


Mas a economia é apenas mais um fator. A verdade é que Lula é Presidente pela 3ª vez, e foi eleito de forma muito apertada e questionável. Nesse sentido, há uma oposição interna no Brasil que não apoia o governo, mas é silenciada através de um Judiciário aparelhado pelo partido de Lula. Assim, o atual governo rege o país como uma república ao melhor estilo russo: com oligarquias fiéis aos planos do governo, com repressão e perseguição a opositores mais aguerridos, violação de Direitos Humanos e censura.



Apesar da importância econômica e territorial do Brasil, o país hoje não é o mais forte do ponto de vista militar imediato. A verdade é que há uma força militar mais forte no pronto emprego atualmente, que é a Venezuela. O país que conta com aproximadamente 450 mil militares apenas na ativa em todas as suas Forças disponíveis para caso de guerra. Além disso, os venezuelanos possuem blindados para tropas como os russos 8x8 BTR 80, 130 blindados para combate de infantaria BMP-3 (considerados um dos melhores da região), os MBTs do país são os T-72, também russos, comprados a partir dos anos 2000. Estima-se uma quantidade de quase 200 desses blindados. Finalizando a lista de blindados, o país ainda possui uma força de algo em torno de 160 blindados AMX-30 de origem europeia.


Além disso, a Venezuela possui boa força em combate aéreo. O país conta com a melhor defesa antiaérea da região. Muito se fala dos famosos S-300 Antey 2500, que o país possui pouco mais de uma dezena de unidades, mas a espinha dorsal estão em sistemas menores, porém eficazes também, como as baterias S-125 Pachora e SA-17 Grizzly. Além desse poder antiaéreo, o país possui ao menos 20 caças Sukhoi Su-30 Mk2, mais 16 caças F-16 A/B. Os caças norte-americanos provavelmente sofrem com as sanções dos EUA, porém muitas delas suspensas no atual governo de Joe Biden, já os caças Sukhoi russos operam normalmente.


Por outro lado, os aliados dos EUA não possuem uma força que faça frente a Venezuela e Brasil (que possuem governos alinhados ideologicamente). A Argentina, que está mudando para um governo libertário de direita, está com as Forças Armadas em frangalhos praticamente. O Chile, que é o mais forte desse grupo, possui caças F-16, mas pouco interesse em se envolver em litígios regionais, até porque o país passou por problemas internos recentes e está às portas de uma nova Constituição. E os demais não possuem expressividade suficiente para alguma ação.


Portanto, com o principal país da região (Brasil) ao seu lado, com o país mais forte militarmente também aliado (Venezuela), além de uma base na Argentina, e aquisições de obras importantes na região, o bloco eurasiano, até o momento deste artigo, se encontra em certa vantagem com relação aos EUA. Se isso permanecerá, talvez a crise em Essequibo e seu desenrolar comece a mostrar a resposta. Mas algo é certo: a região da América do Sul atualmente está em disputa e forças estão atuando, ou para os EUA, ou para a China. E assim como na África, os países devem ser explorados, vilipendiados em suas riquezas, sem verem o devido pagamento e retorno para a população local.


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