Entenda o que está por trás da demissão de Sergey Shoigu como chefe das Forças Armadas da Rússia em meio a bom momento na guerra da Ucrânia.
A notícia chegou de forma inesperada. Sergey Shoigu atuou por mais de 10 anos à frente das Forças Armadas da Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, após posse para um novo mandato no Kremlin, substituiu nesse domingo (12) seu antigo ministro da Defesa, em uma mudança de gabinete que ocorre no momento em que Putin inicia seu quinto mandato e a guerra contra a Ucrânia chega ao terceiro ano. De acordo com a lei russa, todo o Gabinete russo renunciou na terça-feira.
Shoigu foi realocado como Secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa. Uma espécie de "rebaixamento" na burocracia estatal de Moscou. Para o cargo de Ministro da Defesa, Putin escolheu o economista e entusiasta tecnológico Andrei Belousov (escolha que deverá ser ratificada no Conselho da Federação Russa, uma espécie de Senado). Mas afinal de contas, por quê?
A atuação na Guerra da Ucrânia, obviamente, está no centro da resposta. Shoigu representava os militares russos e sua visão não tão radical do ponto de vista de atuação. Buscava preservar vidas russas. Contudo, a atuação gerou o atoleiro ucraniano no qual os russos se meteram, e ainda com acusações de envolvimento do Ministério da Defesa em casos de corrupção com o Vice-Ministro Timur Ivanov.
Outro caso que prejudicou Shoigu foi o levante de Yevgeny Prighozin. As críticas duras do falecido chefe do Grupo Wagner ecoaram discordâncias e críticas severas à condução pouco contundente da máquina de guerra russa contra a Ucrânia. Essas críticas levaram à revolta de agosto/23 e ao futuro falecimento de Prigozhin.
Além disso, Putin visa modernizar e arrojar a máquina de guerra russa. Após já ter gasto bastante o estoque de velharias, prisioneiros e mercenários, o Presidente russo escolher um economista para o Ministério da Defesa traz tanto uma mensagem, como dá ideia de norte que a guerra deve tomar.
Belousov é conhecido como um ótimo gestor moderno na burocracia russa. Na época de Dmitri Medvedev foi um dos responsáveis pelas bases econômicas do país que permitiram à Rússia suportar as sanções econômicas do Ocidente, além de ganhar a confiança de Putin. A visão é que Moscou está buscando tornar o país mais moderno e colocar uma gestão civil com visão mais aberta, além de integrar mais a economia russa ao esforço de guerra.
Mas a Rússia não vive um bom momento? Por que realizar essa substituição? O momento para troca é ideal na política e na guerra. Putin assumiu mais um mandato como Presidente, e as punições podem ser camufladas na troca de governo. Além disso, o novo ciclo traz a possibilidade de uma mudança para políticas de guerra mais arrojadas e heterodoxas, principalmente considerando que há fortes indícios de envolvimentos em táticas heterodoxas do Ocidente com os ataques terroristas em Moscou (o que também prejudicou Shoigu).
Seja como for, o momento bom da guerra também é propício para mudança, já que os efeitos negativos de uma mudança de comando tendem a ser anulados pelo cenário positivo no teatro de operações. Se isso trará impacto na linha de contato e nos rumos da guerra, o tempo dirá.
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