Mesmo após o lobby do Presidente Zelensky, a Ucrãnia foi rejeitada como membro da OTAN.
A realidade não se importa com seus sentimentos ou desejos. A realidade é dura, é cruel. E na guerra mais ainda. A Ucrânia está provando essas afirmações da maneira mais desgraçada e triste para o seu povo. Encurralado entre duas prensas compressoras (OTAN de um lado, e Rússia do outro), o governo ucraniano viu essa semana o seu desejo de fazer parte da aliança do Atlântico Norte ser frustrado pelos membros da aliança internacional. Mas, se eles estão guerreando contra os russos, por quê? Responder isso é a proposta deste texto.
O primeiro e mais óbvio ponto é o fato da invasão russa no território ucraniano. O conflito inviabiliza o acesso à OTAN por parte da Ucrânia. Primeiro porque há interpretações de um estudo encomendado pela aliança em 1995 que elenca certos requisitos para poder aceder ao status de membro da aliança. Dentre os requisitos, há um que elenca o "comprometimento com a solução pacífica dos conflitos". Uma das interpretações desse requisito afirma que um país que deseje fazer parte da aliança, não pode estar envolvido em guerra no momento de sua aceitação. Até porque, com o artigo 5 do tratado, a aceitação de um país que esteja em guerra, traria a obrigação a todos os seus membros para apoiarem diretamente aquele que foi aceito.
Outra questão mais profunda é a visão eurocêntrica de mundo de alguns povos. Nesse sentido, quanto mais ao leste da Europa, até a fronteira da Rússia, muitos povos consideram outros "menos europeus". Principalmente tratando-se de germânicos, nórdicos, espanhóis, italianos, espanhóis e ingleses, quando olham para o leste. Povos eslavos, povos mais próximos do Oriente Médio, não possuem a mesma tradição europeia, e isso gera um desconforto na aproximação, vide que o acesso da Turquia na OTAN não ocorreu sem protesto de gregos, e só ocorreu por lobby dos EUA para ter uma porta de entrada no Oriente Médio. Esse fato social e histórico gera uma posição diplomática limítrofe por parte dos membros fundadores do pacto da OTAN, na qual há um limite mesmo para apoiar países europeus não-membros.
É importante também outro motivo para a recusa da Ucrânia: os EUA, mesmo sob a administração do Joe Biden, estão observando a ameaça crescente no front do Pacífico com os chineses. A audácia cada vez maior da China com relação a Taiwan tem levantado preocupação de Washington, tanto pela corrida armamentista empreendida por Pequim, quanto pela postura ofensiva no Mar do Sul da China, com as ilhas artificiais e a disputa por ilhas japonesas. Nesse sentido, os Estados Unidos estão observando que, cedo ou tarde, precisarão enfrentar os chineses em uma disputa pelo controle do Pacífico. Isso também esvazia um pouco o interesse de Washington na Ucrânia.
Finalmente, há a questão de assumir responsabilidades. A OTAN, por todos os motivos já elencados, observa que não conseguirá retroceder os russos da região do Donbass sem intervenção direta. Sem enviar tropas de fato para lutar na Ucrânia. Com isso, os povos dos países membros não vêem com bons olhos algo que vá além do envio de equipamentos. O problema disso é que os ucranianos assim são usados literalmente como "bucha de canhão" pela OTAN para desgaste russo. A recusa da aceitação da Ucrânia demonstra que até para os países europeus há limites no envolvimento no conflito. Já os russos estão diretamente envolvidos, então para eles não há essa limitação.
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