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Rússia mostra que não está blefando sobre uso de armas nucleares.

Vladimir Putin sobre a possibilidade do uso de armas nucleares deixou o mundo em tensão, mas clara a sua disposição em elevar o conflito ao próximo nível. Por quê?


"Partimos do fato de que não pode haver vencedores em uma guerra nuclear e ela nunca deve ser desencadeada". Não, essa não é a declaração divulgada por Putin hoje. Ele fez essa declaração inicial do texto em agosto, ao falar sobre a possibilidade da guerra nuclear. A declaração feita pelo líder russo hoje está exibida ao final desse texto. O Presidente russo mostrou que está disposto a usar "todos os meios à disposição" para proteger a integridade do seu território. Entenda o que Putin quer e como pretende alcançar com os movimentos da guerra.


A guerra não é aquilo que o inimigo conta, e nem o que você pensa dela. É sempre algo entre esses dois pontos. Nesse sentido, é preciso não cair em "fanfics" da mídia ocidental, assim como não pensar que a Rússia é toda poderosa e pode encarar um conflito aberto com a OTAN sozinha. É preciso lembrar que a OTAN conta com países fortes militarmente e economicamente como EUA, França, Reino Unido e Alemanha. Esse quarteto só já seria impossível ser vencido por Moscou de forma singular. Assim, é preciso observar que os movimentos de recuo dos russos nas últimas semanas demonstram a força econômica e bélica desses países que apoiam abertamente com equipamento e treinamento militar os soldados ucranianos.


Dito isso, também não se pode afirmar que a Rússia está recuando para "tentar um acordo de qualquer forma" e jogar a toalha. A verdade é que a Ucrânia é apenas o teatro do confronto de titãs EUA vs. Rússia. A Rússia conta com a mais vasta frota de blindados do mundo, com uma economia que não tem mais como ser sancionada, e com um objetivo. Nesse sentido, não pense que o que jornais ocidentais falam é verdade. A Rússia errou no começo da guerra por pensar que poderia conquistar Kiev de forma rápida e inequívoca. A bravura ucraniana e os bilhões de dólares em equipamentos da OTAN fizeram seu trabalho. Mas o objetivo principal russo não era, e talvez fosse muito mais um "bônus", a conquista de Kiev.



A Rússia, na década passada, anexou a Criméia sem grandes oposições do Ocidente, e fomentou grupos ultranacionalistas dos próprios ucranianos com isso. Quando reconheceu as repúblicas de Donetsk e Lugansk, todos sabiam que era a desculpa para o conflito. Mas, Putin foi mais uma vez o estrategista formidável, por dar a entender que a região era mera "desculpa". Há muito mais nas intenções de Moscou do que uma mera desculpa para o conflito.


Um objetivo que parece mais factível e real, tanto para Putin como para o prolongamento da guerra, é a consolidação da região do Donbass e da região portuária de Kherson como futuros territórios sob tutela russa. Essa ideia seria formidável também do ponto de vista econômico por dois pontos: Dar acesso aos russos ao Mar Negro, e servir como alternativa para uma futura parceria com os chineses na Nova Rota da Seda. Assim, assegurando essa contiguidade territorial entre a Rússia continental e a Criméia, seria o sacramento da participação russa direta em uma nova rota comercial que promete bilhões e bilhões de dólares.


A Nova Rota da Seda (NRS) inspira-se claramente na trajetória feita pelo Império Chinês antigo no Velho Continente, e visa conectar os diversos países da Europa, África, Oriente Médio e Ásia Central à China. Trata-se de uma série de obras de infraestrutura feitas pelos países (com patrocínio forte chinês), que também pode servir como alternativa de fonte de recursos, já que Pequim vê seu litoral permeado por inimigos como Coréia do Sul, Japão, Filipinas e a constante presença da Marinha dos EUA no Pacífico e no Mar do Sul da China.


Os russos observam o movimento chinês, e com as sanções impostas pelo Ocidente, visam comercializar com outras nações que não aderiram ao embargo (caso da China). Além disso, ter um litoral no Mar Negro, garante aos russos o acesso direto ao Mar Mediterrâneo pelo Estreito de Bósforo (controlado pelos turcos), eliminando o longo contorno pelo Mar Ártico e por águas dominadas pela OTAN no litoral europeu. Essa posição privilegiada, com a contiguidade territorial aumentaria consideravelmente a capacidade de mobilização das forças russas para possível projeção de poder no Mediterrâneo ou na própria Europa.


Assim, fica respondido o porquê dos russos insistirem em um conflito que parece, a princípio, sem sentido. Como todo país, a Rússia tem interesses e quer atingi-los. A contiguidade territorial entre Criméia e Donbass é a garantia de participação ativa e direta dos russos na maior rota comercial do mundo, além de dar acesso ao Mediterrâneo de forma crucial. Isso colocará, caso alcançado, a Rússia em um patamar de vantagem sobre os países do leste europeu, da OTAN e dos EUA, que terão o trajeto mais curto e barato de comercialização com os chineses, passando inevitavelmente pelo Mar Negro, pelos russos.


Por isso a frase forte hoje. Putin quer essa vitória, quer ter um futuro de prosperidade econômica para a Rússia garantido, e não abrirá mão dos territórios que lhe darão isso. O inverno europeu está chegando, e Moscou cortou o fornecimento de gás para a Europa (muitos acreditavam que não chegaria a esse ponto). Mais uma vez, o Presidente russo mostra que irá até o fim, nem que tenha que lançar mão de armas nucleares, mesmo que de pequeno porte, para mostrar a resolução da Rússia no conflito. Para mostrar que ele não entrou na guerra para perder, ao menos não sozinho.





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