Carros custando uma fortuna, um problema de longa data no Brasil, agora ficarão menos caros com medida que promete ser pouco eficaz.
No Brasil é difícil ter um carro. Seja 0 km ou usado, o país é conhecido por suas "carroças" caras, e pela paixão que o brasileiro tem por esse item. Quando se trata de produtos com alto valor agregado e complexa cadeia de produção, definir um preço adequado é tarefa que a maioria das pessoas não compreendem. Principalmente ao se levar em conta o fator emocional que representa a compra de um veículo para o brasileiro comum.
Nesse sentido, é ponto pacífico que na última década o preço médio de automóvel subiu de forma significativa. Mas o que mudou? E por que a medida anunciada na semana passada pelo governo do PT, de conceder até 10% de desconto no valor do automóvel é inócua? Para tentar responder essas perguntas, o Sociedade Inteligente traz um artigo sobre a temática que envolve o preço dos carros no Brasil.
O Youtuber e especialista em mecânica automotiva, Wagner Costa do canal Wagner Costa, traz um panorama completo e que esclarece a questão. Em primeiro lugar, há o fato de que carro sempre foi caro no Brasil, comparando o poder aquisitivo da população e o valor absoluto do bem ao longo do tempo. E os preços altos em produtos industrializados é uma realidade no mundo inteiro atualmente. Mas no mercado automotivo há agravantes que puxaram ainda mais os valores para cima.
Wagner Costa aponta como um dos principais fatores o carro vir cada vez mais equipado de fábrica. Seja por questões de segurança, seja por mimos do mercado, cada vez mais itens foram sendo incorporados na fabricação ao longo do tempo, o que ajudou os preços serem elevados. Hoje em dia é difícil falar em um carro sem freios ABS, sem airbag, sem uma central multimídia, sem sensores que ajudam a vida do condutor, mas encarecem a conta final da compra. Dessa forma, muitas montadoras simplesmente abandonaram a produção do conhecido "carro popular".
Outro ponto que Costa aponta é a criação de um oligopólio global no mercado automotivo. Atualmente há uma tendência de concentração de mercado na produção automotiva, com empresas maiores que funcionam como holdings de marcas fabricantes de veículos. Exemplo: A Stellantis (grupo mais conhecido aqui no Brasil) reúne as marcas Peugeot, Citroën, Jeep Motors, Fiat, e outras. Assim, várias marcas aparentam uma concorrência, mas todas respondem a um mesmo dono, e possuem até uma mesma plataforma, alterando apenas alguns componentes e a estética.
Wagner Costa também apresenta o excesso de regulamentação do Estado como um problema. As requisições altamente complexas de agências do governo, e que geram um custo maior para um setor que já possui um bem de alto valor agregado, resultam em uma espécie de reserva de mercado. Apenas montadoras já estabelecidas conseguem atuar cumprindo todas as exigências, ou possuem lobby suficiente para pressionar mudança em alguma norma sobre veículos. Assim, novos atores que poderiam aumentar a competitividade são inibidos de atuarem e os preços não sofrem pressão para reduzirem.
Finalmente, há a questão da falta de uma indústria genuinamente nacional. Com itens de produção global, a maioria das peças e componentes mais caros são importados, ou precificados baseados no dólar. Seja por falta de maquinário da indústria de transformação, seja por falta de pessoal preparado para esse mercado, isso gera ainda mais custos com uma ideia protecionista que o atual governo tem. Nesse ensejo, o problema tributário também é apontado. Com altas taxas de impostos em vários momentos da cadeia de produção automotiva, um veículo chega a custar para o consumidor final quase o dobro do seu valor básico de produção em virtude dos impostos.
Portanto, o que se observa é um problema de alta complexidade em torno da questão dos preços de automóveis no Brasil. Ainda há que se pontuar o fato de que o brasileiro reclama do alto valor do veículo, mas ainda assim compra. E é tudo que o fabricante precisa. Junte a isso questões como péssimo transporte público, segurança pública fraca para quem fica em um ponto de ônibus ou estação de metrô, e a vontade do brasileiro em ter um automóvel é ainda maior. Infelizmente, a História ensina que problemas complexos tendem a se perdurar, e a questão automotiva do Brasil não é diferente, principalmente em oligopólio e com um governo que promove a concentração de mercado. Logo, os 10% de redução anunciados pela atual gestão federal, pouco ou nada influenciarão em melhoria nos números de vendas de automóveis.
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