Em período eleitoral, os institutos de pesquisas vão à forra e despejam números diariamente na população. Porém esses números não retratam a realidade. Entenda.
Pesquisas eleitorais são instrumentos de marketing complexos e elaborados. Há vários instrumentos científicos que a população desconhece e as entidades que realizam pesquisas os utilizam para enviesar os resultados de acordo com visões de realidade que não necessariamente condizem com o mundo real. O Sociedade Inteligente irá apresentar brevemente esses instrumentos para que fique claro como funciona esse mercado de estatísticas, ou nas palavras icônicas de Augusto Nunes: "As lojinhas de porcentagens".
I. Metodologias e abordagens
O método usado para escolha dos entrevistados e abordagens interfere. Há as pesquisas por telefone, pesquisas por fluxo, pesquisas por internet, e cada método de escolha interfere. Candidatos que tenham a maioria dos eleitores de classes A ou B, provavelmente terão resultados melhores em pesquisas que exijam meios mais tecnológicos para responderem como internet ou telefone. Já candidatos que tenham a maioria dos eleitores em classes mais baixas, vão ter melhores resultados em pesquisas presenciais.
Mas, pesquisas presenciais, como as de fluxo, também podem ser manipuladas. O questionador do instituto pode escolher as pessoas que entrevista e favorecer determinado candidato. O ponto aonde é realizada a pesquisa também interfere. Ir a uma pesquisa presencial em um bairro nobre trará resultado diferente de realizar as mesmas perguntas em uma área carente de uma cidade. Questionar alguém em ponto de ônibus é diferente de questionar uma pessoa que foi de carro para o trabalho, ou está a passeio na rua. Até questionar homens e mulheres traz um resultado distinto, dependendo do sexo da pessoa.
II. Pesquisas estimuladas ou espontâneas?
Outro ponto importante é o tipo de pesquisa. Há as estimuladas e espontâneas, e cada uma apresenta números distintos. A pesquisa estimulada é a clássica que leva os nomes dos candidatos e pede para o eleitor escolher em qual votará dentre os nomes exibidos. Aqui há vários efeitos na escolha. Os nomes apresentados já interferem na escolha. Além disso, a ordem na qual são apresentados também influencia a escolha. Há estudos que apontam que, pessoas indecisas ou que desconhecem os candidatos, tendem mais a escolher o primeiro, o último, ou aquele que está no meio da lista. Também, a velocidade com a qual é citado, ou exibido, o nome do candidato pode mexer na escolha. Assim, é bem possível haver manipulação em pesquisas estimuladas.
Por outro lado, a pesquisa espontânea é a menos vulnerável à manipulação. Isso porque a pergunta se relaciona (ou deveria se relacionar) à escolha da pessoa, exemplo: "Em quem você votará para Presidente?" Mas, mesmo essa modalidade não escapa de possíveis tentativas de manipulação. Se houver intenção do pesquisador em favorecer candidato X com a pesquisa, mas o questionado falar que votará no candidato Z, o questionador repete a pergunta para corrigir um "ato falho", ou achar que pela aparência ou postura do questionado, ele deveria escolher diferente. Assim, as amostras seriam contaminadas e a pesquisa não retrataria de fato a escolha de quem questionou.
III. Questionário da pesquisa
Geralmente as pesquisas não se resumem a apenas realizar um apanhado sobre eleições. Elas aproveitam para realizar coleta de informações sobre outros dados. Essa coleta é feita através de questionários que tratam sobre questões políticas envolvendo os candidatos. As informações são usadas para, em tese, aferir o contexto eleitoral e obter dados que vão além do mero percentual. Dados que poderiam indicar tendências e avaliar sentimentos do eleitorado. Porém, a forma como o questionamento é feito, interfere na resposta, e pode interferir na escolha do candidato para os mais indecisos. Palavras-chaves, perguntas montadas para induzir réplicas e termos abrangentes podem ser inseridos e causar uma reflexão que mude o voto de quem está respondendo à pesquisa.
IV. Interesses dos que encomendam as pesquisas
Quando se vende um produto, o objetivo é agradar seu cliente para que ele continue comprando e divulgue seu trabalho para os amigos e parentes. Pesquisas eleitorais não são de graça, e tampouco sem dono. Sempre há alguém que solicita a pesquisa. O cliente, obviamente, tem uma opinião sobre o cenário político apresentado, e quer influenciá-lo. E aqui a lógica não passa por retratar a realidade, mas influenciar a opinião pública de acordo com o contratante. Portanto, a estatística pode deixar de ser abordada do ponto de vista objetivo, apresentando dados puros e honestos, mas contaminada por visões subjetivas de quem a contratou e de agentes do processo. Nesse contexto, as pesquisas eleitorais refletem o que o pagador ou o pesquisador quer, e não a realidade.
Por isso, pesquisas eleitorais divulgadas e registradas para acesso público são instrumentos de marketing. Elas enviesam a opinião pública de acordo com o que apresentam. Não necessariamente trazem dados que correspondem à realidade, mas exibem dados que aparentam legítimos por se apresentarem como se fossem coletados honestamente, mas é impossível garantir que esses foram obtidos sem nenhuma influência. A verdade é que cada eleitor deve votar como achar melhor, e sempre desconfiar de pesquisas, independente do seu candidato estar em primeiro ou em último lugar.
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