A eleição controversa dos democratas Joe Biden e Kamala Harris trará mudanças na forma como a América dialoga com o mundo.
O discurso de Joe Biden em sua posse hoje foi mais uma demonstração das análises precisas do blog Sociedade Inteligente. Ao pregar a "paz" entre conservadores e liberais, entre republicanos e democratas, ao dizer nas entrelinhas que buscará unir o país pelo caminho do meio, as afirmações feitas corroboram a análise do talvez o mais importante texto a ser lido aqui no Sociedade Inteligente: Fique em cima do muro: Uma análise do Construtivismo moldando o século XXI. Contudo, é preciso ler além do discurso construtivista de Biden. É preciso relembrar a campanha e observar os possíveis movimentos dos EUA para com o resto do mundo.
Primeiramente deve-se observar relacionados, mas de forma separada, as ações internas com as externas nesse caso. Primeiro porque os Estados Unidos hoje estão divididos. Apesar da derrota de Donald Trump, o ex-presidente possui seguidores fiéis e que esperam o seu retorno seja em outro cargo público, seja como novo candidato em 2024 ou apoiando algum nome, seja como uma figura de forte influência. Dessa forma, Biden internamente está longe de ter um mar calmo. E isso afetará a política externa da maior potência mundial, e em especial, o relacionamento com o Brasil.
A visão econômica norte-americana provavelmente estará ligada à esquerda. Biden anunciou um expansionismo monetário através de um pacote de quase 2 trilhões de dólares, assim a nova presidência buscará estimular o consumo e nivelar por baixo a economia. O Brasil já passou por algo semelhante nas políticas de Dilma Roussef. Tais estímulos funcionam inicialmente, porém se não forem associados ao aumento de produtividade levam a uma espécie de "giro em falso" da economia, o que gera aumento de preços, endividamento estatal, perda de valor da moeda, desemprego e falta de competitividade com economias mais dinâmicas.
Já em posturas diplomáticas e beligerantes, haverão novidades e também mais do mesmo. Biden está comprometido com o apoio aos organismos multilaterais, principalmente no que diz respeito à mudança climática. Dessa forma, buscará usar sua influência para forçar países a agirem segundo a agenda ambiental global. Provavelmente negociará novos termos de um acordo com o Irã, continuará o apoio a Israel (porém mais distante), buscará estreitar laços diplomáticos por princípios com a Europa e terá uma relação menos de confronto com a China. Porém não é interesse dos EUA que Pequim ganhe força (principalmente em questões tecnológicas), portanto algum nível de oposição deverá ser visto.
Finalmente, quanto ao Brasil. Há ainda dois anos de governo de Jair Bolsonaro. E não é segredo da extrema proximidade entre nosso Presidente e Trump. Dessa forma, é muito provável um maior distanciamento, porém sem que o Brasil perca de vista a importância da parceria entre as duas nações (aliás, fato nítido na carta do líder brasileiro ao colega norte-americano). Mas, do ponto de vista do governo de Biden, a pressão por respeito e preservação Amazônica será provavelmente o tom. Não que chegue ao ponto do que foi dito na campanha, mas a interdição de interesses em organismos multilaterais (que é um ponto no qual o Brasil sempre foi muito hábil), poderão ser instrumentos de Washington para colocar o governo brasileiro dentro dos conformes da agenda ambiental.
Portanto, um país com nova perspectiva econômica, com nova visão diplomática, velhos inimigos e novos desafetos, esse será os Estados Unidos a partir de hoje. A economia é um ponto chave e que poderá ser a graça ou desgraça da atual presidência. Há um ano, antes da pandemia, a economia americana vivia um momento único com crescimento vigoroso e a menor taxa de desemprego da história. O ex-presidente Donald Trump desejou um bom governo ao sucessor informando que lançou os fundamentos para um crescimento forte da economia, basta Biden seguir seus passos. Porém, o anúncio do expansionismo monetário é um sinal de que o dever de casa no qual Trump tirou nota dez, seu substituto não seguirá, e isso poderá dar espaço para ações mais ousadas na beligerância dos EUA para desviar dos problemas internos. Além de abrir espaço para uma reviravolta dos conservadores em 2024. Vamos acompanhar atentos.
Comments