A tentativa de estrangulamento econômico de um regime autoritário acabará por fortalecê-lo.
As sanções econômicas contra a Rússia e o fomento de xenofobia contra russos terá o efeito contrário ao desejado pela aliança do Ocidente. Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, as medidas econômicas tomadas pelos EUA e seus aliados contra Moscou não chegaram nem de perto a abalar o regime de ferro de Vladimir Putin. A realidade é que a tentativa de estrangulamento econômico da Rússia está criando um gigante que poderá desafiar a OTAN e os EUA em algumas décadas.
Criticadas como medidas ineficazes por especialistas dos próprios países ocidentais, as sanções econômicas lideradas pelos Estados Unidos, contra os russos, se mostraram pouco efetivas na derrubada do regime de Moscou. Isso não quer dizer que a Rússia não sente seus efeitos. A economia terá queda nesse ano de 2022 na ordem de dois dígitos, caso continuem as sanções, o rublo desvalorizou muito, e empresas deixaram de produzir no país. Porém, qual efeito prático isso tem na derrubada de Putin, ou ao menos em dissuadi-lo a cessar as hostilidades na Ucrânia? Até o presente momento, a única dissuasão vista foi da resistência ucraniana no campo de batalha.
Mas por que não gera efeitos práticos tais medidas? Primeiro, o óbvio: Putin é um ditador e simplesmente ignora os clamores pelo cessar-fogo. Esse é o maior problema quando se trata na derrubada de regimes autoritários fortes. O líder russo não está a frente do país por décadas à toa. Ele soube construir um cenário interno que eliminou os oponentes mais perigosos e o garantiu no poder, apesar de vozes dissidentes. Assim, Moscou continua de pé apesar dos ataques econômicos do Ocidente. E não apenas a resistência autoritária é um fator, mas essas medidas poderão gerar, a longo prazo, um efeito pior ainda.
Quando se fala em proibir produzir, comercializar, gerará um vácuo econômico no país. Caso fosse um país mais precariamente industrializado como a maioria dos países sul-americanos, alguns asiáticos e os africanos, isso faria sentido. Porém, apesar da Rússia não ser reconhecida pelo Ocidente dessa forma, trata-se de um formidável parque industrial e com praticamente acesso à maioria dos recursos necessários para si (considerando as riquezas minerais e naturais da Rússia). Além disso, a procura gerará a oferta. As empresas que deixaram de vender seus produtos aos russos, fortalecerão um cenário para criação de novas indústrias e comércios nacionais russos.
Portanto, as sanções econômicas são ineficazes e, a longo prazo, terão efeito contrário ao desejado. Com um regime autocrático forte, vastas fontes de recursos como petróleo, gás e minerais, uma indústria nacional forte com desvalorização cambial que propicia trocas com países não alinhados com o Ocidente, e uma economia que se reinventou após as sanções, a Rússia poderá emergir em alguns anos como uma potência temida pelos mais ferrenhos fiéis ocidentais de Washington. Se isso acontecerá ou não, o tempo de duração das sanções dirá.
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