Uma perspectiva à luz dos princípios da liberdade, família e patriotismo: os três principais pilares da atual direita do Brasil.
Um grupo composto por jovens ambiciosos. Se uma frase breve pudesse sintetizar o MBL seria essa. Liderados por Renan Santos, Kim Kataguiri (União-SP) e Arthur do Val (alvo de impeachment na Assembléia Legislativa de SP), o movimento busca se posicionar como protagonista e alternativa à direita contra Jair Bolsonaro. Mas é possível, antes de se filiar às próprias fileiras do movimento, ou nas arquibancadas de apoio, como feito por influenciadores como Nando Moura, Rogério Vilela e Marcelo Brigadeiro afirmar que o MBL é um partido de direita?
Essa questão gera muita controvérsia entre os vários agrupamentos à direita do PT, e, devido a isso, para não ter uma janela de Overton "deslocada", esse padrão não é sensato. Portanto, é preciso estabelecer o que o MBL defende e encaixá-los nos 3 principais pilares da direita brasileira: liberdade, família e patriotismo. É preciso compreender que essas palavras representam valores fundamentais para uma pessoa se identificar à direita no que é compreendido, dentro da política brasileira atual, como sendo uma pessoa autenticamente à direita.
1. Liberdade
Liberdade pode ser observada em vários aspectos sociais. Nesse sentido, algo que o MBL defende, mas já de cara o faz de forma precária e questionável, é a diminuição do Estado. Primeiramente, muitos observam a postura do movimento como muito semelhante aos antigos tucanos, com várias personalidades mais influentes da direita afirmando que eles seriam os sucessores espirituais do PSDB. Inclusive, o maior expoente do movimento, Kim Kataguiri, já declarou voto em Geraldo Alckimin (PSB-SP, atual Vice Presidente de Lula e ex-tucano).
Mas não apenas pelo alinhamento, também a postura do próprio Kim Kataguiri não tem favorecido tanto a diminuição estatal: o parlamentar votou sim na atual Reforma Tributária que além de fornecer ao Brasil o maior IVA (imposto sobre valor agregado) do mundo, também irá centralizar muito a arrecadação na União, concentrando poder. E indo além da mera questão econômica, com relação aos incidentes pós-eleitorais do ano passado, com toda a eleição prejudicada por uma arbitragem do pleito extremamente parcial, o líder e estrategista Renan Santos apoiou e ainda vibrou com as ações arbitrárias do STF, algo que inclusive já faziam há tempos contra apoiadores do Presidente Jair Bolsonaro. Lembrando que tais ações, como inquérito das fake news e inquérito dos atos antidemocráticos, foram abertos sem o respeito do rito legal adequado e são questionados por juristas e advogados.
Os expoentes do movimento também se posicionaram contrários à aprovação da proposta de voto impresso. Kim Kataguiri ainda afirmou que nunca houve fraude nas urnas eleitorais, mesmo sem apresentar nenhuma prova de que os votos foram contabilizados corretamente, sem apresentar códigos fontes dos equipamentos eletrônicos.
2. Família
Sobre esse segundo pilar é preciso entender o que ele representa. Ao mencionar família, se pensa em um pai, uma mãe, irmãos, parentes próximos. O núcleo familiar é a instituição basilar de toda sociedade, e ao longo dos últimos tempos tem sido fortemente atacado pelo progressismo e pela aculturação marxista. O pai é colocado como opressor e autoritário, a mãe como vítima ou como coparticipante dos "desmandos" do pai, e os filhos são ensinados a serem rebeldes e a não constituírem famílias próprias no futuro.
A direita, durante o governo Bolsonaro, batalhou arduamente para tentar frear avanços nesse sentido em vários níveis, desde votações administrativas, a projetos de leis e até em conscientização da população. Em todo momento, os integrantes do MBL sempre lutaram contra o governo Bolsonaro. Em debate com o blogueiro e comentaristas esquerdista Guga Noblat, Kim Kataguiri afirmou:
... conservadorismo não tem nada a ver com aborto, [...] nada a ver com cota, [...] nada a ver com casamento gay. Conservadorismo tem a ver com instituições, essa é a definição básica [...] que eu defendo.
Contextualizando, para fazer justiça à fala. O Kim Kataguiri trouxe essa fala no sentido de que o Estado não deve intervir nessas questões de foro pessoal. Porém, uma vez que, por exemplo, uma lei seja aprovada, obrigando religiões a realizarem casamentos com pessoas do mesmo sexo, essa leia deveria ser cumprida, na ótica do próprio Kim, que afirmou no mesmo debate mais adiante:
... a gente pode discordar da lei de cotas, mas a gente não defende que tenha um processo revolucionário em que as pessoas comecem a descumprir a lei de cotas porque discordam dela.
Apesar dessa fala parecer razoável, por se tratar de uma temática mais leve, ao expor um exemplo mais esdrúxulo a verdade do que foi dito é revelada. Uma premissa positivista e extremamente perigosa na qual toda a lei deve ser cumprida fielmente. E o exemplo foi trazido por um dos principais apoiadores do MBL, Marcelo Brigadeiro, conhecido como Casca "Grossa" no X (antigo Twitter). Veja o vídeo extraído da rede social:
3. Patriotismo
Quanto ao patriotismo, o termo é bem compreensível da maioria das pessoas. Mas e como o Movimento Brasil Livre se posiciona em temáticas de Defesa da soberania nacional e dos interesses do Brasil? Nesse sentido, o MBL tem uma postura tímida fruto das divergências sobre a postura patriota da direita majoritária que busca o Brasil independente de interesses internacionais como de Washington e de Pequim (dois principais pólos de poder atualmente).
Além disso, a proximidade do movimento com figuras que são vistas como representantes de interesses estrangeiros no país como João Dória, Geraldo Alckimin, Ricardo Leite e outros tucanos conhecidos, coloca em dúvida muito forte o real patriotismo do grupo. Inclusive, essas figuras são participantes ativas de fóruns que trazem agendas como ESG, além de pautas globalistas importadas para serem adaptadas ao Brasil, como o LIDE (Grupo de Líderes Empresariais). Por coincidência (ou não), o Presidente do LIDE é ninguém menos que João Dória Neto, e o co-chairman do grupo é Celso Lafer, ex-chanceler de FHC e grande nome na implantação da cultura ESG através da Rio 92, pela qual respondia por toda a organização do evento.
Portanto, há sérias dúvidas quanto a esses nomes estarem alinhados com os interesses genuinamente nacionais do Brasil. E, com tanta proximidade entre o MBL e esses personagens, a conclusão de que uma possível política externa promovida pelo grupo, caso tivessem o poder de fazê-lo, seria tão entreguista e precária, como foi nos governo Collor e FHC. Esses depois passaram o bastão ao maior Ladrão político da história, Lula, que hoje também entrega o Brasil aos estrangeiros, mas negocia com Pequim e Washington para ver quem irá pagá-lo melhor.
4. CONCLUSÃO
Mas concluindo, e então? O MBL é ou não de direita? E se não for, o que é? Primeiramente, a análise para isso precisa ser honesta, e sem a mesma falsa equivalência que o próprio movimento realizou em 2022 ao pregar o voto nulo por considerar Lula e Bolsonaro opostos igualmente danosos e serem a mesma coisa politicamente. Do ponto de vista de liberdade, ironicamente pelo nome ser Movimento Brasil LIVRE, esse é o ponto mais complicado de enquadrá-los como direitistas. As posturas dos integrantes denotam forte tendência ao uso oportuno dos instrumentos estatais quando lhes convém: liberdade quando eles, ou aliados, querem falar, se manifestar; mas a mão pesada do Estado deve estar sempre pronta para esmagar desafetos e opositores. Na defesa da família e costumes, eles defendem a liberdade privada de cada um, porém, caso uma lei que prejudicasse cristãos ou que fosse contra os costumes familiares tradicionais, eles aprovariam o cumprimento. Por fim, o envolvimento com figurões que possuem fortes envolvimentos com interesses estrangeiros e a fraqueza ou timidez para defender os interesses nacionais, colocam o MBL também como um grupo duvidoso e pouco confiável.
Com esses pontos levantados, identifica-se que, comparativamente à esquerda tradicional brasileira (PT, PSOL, PCdoB, PCO, PSTU) o movimento está mais à direita. Contudo, há também divergências políticas aparentemente irremediáveis, principalmente na defesa de liberdades, para colocar o MBL como uma direita autêntica. Somando-se a isso a proximidade com figuras peessedebistas, a declaração de Kim Kataguiri que votaria em Alckimin (atual vice de Lula, mas não em Bolsonaro), e a postura favorável a um Estado ainda demasiadamente forte para com a população, o MBL talvez seja o sucessor espiritual do fracassado PSDB que não tem mais relevância política atualmente. Ou seja, o MBL se aproxima mais do que qualquer outro a uma postura socialdemocrata, típica de um espectro de centro-esquerda.
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