Os meios de comunicação são uma arma poderosa em conflitos, e a conflagração entre Rússia e Ucrânia provam isso. Acompanhe mais um artigo da nossa série.
A perspectiva da qual alguém observa algo é a base. Contudo imagine-se como alguém que quer ver o mar em pé e há uma montanha no meio. Há uma outra pessoa em cima com um binóculo que irá descrever o que há além da montanha. Porém, há outra pessoa que está na praia olhando para o mesmo mar e também com um binóculo. Os diferentes posicionamos trarão descrições distintas de um mesmo cenário. A guerra de informações também funciona um pouco dessa forma.
No conflito que ocorre neste momento entre Rússia e Ucrânia, o Sociedade Inteligente propõe um exercício (aos que tem a fluência pelo menos da língua inglesa): Assista um jornal norte-americano sobre o conflito, depois assista um jornal brasileiro sobre o conflito e finalmente assista um jornal russo como a RT News. Você provavelmente observará 3 narrativas distintas sobre o que acontece na guerra. Porém, posição em ciências sociais vai além da mera distância física do fato, há outras dimensões a serem consideradas.
No exercício proposto, primeiro quem consome a notícia precisa entender qual o ponto de vista de quem a divulga: A CNN terá uma visão mais liberal-progressista, a Fox News uma posição mais liberal-conservadora, a Globo uma visão mais social-progressista, a Record uma visão mais social-conservadora, a Jovem Pan uma visão mais liberal-conservadora, e por aí vai. O crucial para se entender qualquer questão humana é que a imparcialidade é uma utopia. O ser humano é influenciado e influencia seu meio, e as pessoas a sua volta.
Portanto não caia na narrativa de jornais que falam em isenção. Essa armadilha é para os incautos que não possuem a iluminação suficiente para ver além do que está sendo exposto. E no caso da guerra no Leste Europeu, muitas pessoas não compreendem sobre geopolítica e muito pouco sobre o histórico da Ucrânia e da Rússia na questão. Portanto, é mais fácil para as mídias montarem uma narrativa com sua visão e vendê-la aos consumidores.
Obviamente, a RT News não irá vender uma notícia contra seu país, nem a CNN ou a Fox News. O que levanta então a seguinte pergunta: Quais os fatos acontecendo entre Ucrânia e Rússia? A resposta só pode ser dada por quem está no campo de batalha, no front. Portanto, o ideal para saber a verdade é assistir tanto noticiários favoráveis aos ucranianos, quanto os canais russos. O fato estará ali no meio, ou as vezes um lado estará certo e o outro fazendo propaganda.
E aqui é onde jaz a importância dos meios de comunicação nas guerras híbridas. Fato é que propaganda foi usada em escala industrial como arma de guerra a partir da 2ª Guerra Mundial. Joseph Goebbles era o homem da propaganda nazista alemã, e os jornais americanos cuidavam disso nos EUA também. No Japão, só se veiculavam notícias permitidas pela corte do Imperador. A Guerra Fria usou essa arma e a levou a um patamar crônico. Diariamente se via notícias tanto do lado capitalista em defesa do Ocidente, e na URSS, o controle midiático era mais explícito e não se permitiam certas reportagens contra o regime socialista.
Atualmente, a guerra de informação e propaganda é vista não só diariamente, mas até em questões banais do dia-a-dia. As redes sociais são um campo de batalha e podem ser observados todos os espectros políticos, sociais e econômicos. Não a toa, tanto russos quanto ucranianos não divulgam ou usam apenas canais de notícia televisiva ou impressa, mas usam redes sociais para anunciar aquilo que querem que as pessoas consumam ou acreditem. Mas não apenas isso, informação (seja ela verdadeira ou falsa) no lugar certo e na hora certa, podem desestabilizar o inimigo e gerar divisão interna, sendo as vezes mais poderoso do que um ataque militar em si.
Portanto, a guerra de informações ocorre sim e é fomentada por quem está interessado em uma determinada narrativa. Seja para contra-atacar e recuar informações inimigas, seja para desestabilizar e dividir o inimigo. A verdade está ali no meio, geralmente como em um buraco negro: Uma singularidade que não pode ser vista, mas sabe-se que ela está ali.
Acompanhe o Sociedade Inteligente pelo Twitter e Facebook (nosso Instagram está em reformulação, por isso não postamos há algum tempo por lá). Em breve a série Guerra Híbrida continuará.
Comments