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Governo convida líder saudita para visita ao Brasil. Erros e acertos da política externa atual.

Há críticas e elogios a serem feitos à atual política externa brasileira. Acompanhe.

Bolsonaro iniciou seu governo em 2018 com um alinhamento aos EUA, quebrando décadas de maior distanciamento. Seu ex-chanceler Ernesto Araújo, durante o governo de Donald Trump como Presidente do país norte-americano, colocou Brasília próxima a Washington e o país se alinhava automaticamente com a liderança ocidental. Essa postura mudou com o fim do governo Trump e o início da presidência de Joe Biden.


O Brasil aos poucos se distanciou novamente, e essa postura ficou mais exposta com as visitas à Rússia, Hungria e mais recentemente com o convite do governo ao monarca saudita Mohammed Bin Salman. Correto? Não necessariamente. É preciso compreender como as Relações Internacionais são complexas e essas posturas mudam com o tempo e com a liderança que assume o poder em um país democrático.


Erros da atual Política Externa do Brasil

  1. Confundir alinhamento com aliança: O alinhamento com o governo de Donald Trump era natural, já que tanto Bolsonaro quanto o ex-Presidente dos EUA são conservadores. Contudo, esse alinhamento em alguns momentos foi confundido com uma aliança entre as nações, algo que nunca houve. O fato é que o Brasil ainda não resolveu o problema sobre o seu papel no mundo: Se será lançar-se para uma futura potência nos níveis de países como EUA, Rússia, França e China, ou se manter como um país mediano sem tanto impacto nas relações internacionais;

  2. Criticar demais a China e de menos outras ditaduras: Se o Brasil queria se colocar como um país livre e ao lado de democracias do Ocidente, então as críticas não poderiam ficar somente aos chineses. Agora, a política externa do país é vista como tão hipócrita como anteriormente, ou tão indecisa quanto. O Brasil será grande quando decidir-se por um lado e assumir o ônus disso, não somente o bônus.

  3. Bolsonaro visitar a Rússia e não ter visitado a Ucrânia, mesmo que em outro momento: Se a ideia é passar que o Brasil está realizando visitas internacionais sem tomar partidos, o Presidente precisaria sim, ter uma visita programada para a Ucrânia (algo que não há). Por mais que se defenda que a visita estivesse programada há tempos, a postura isenta seria, em face ao cenário atual, visitar o outro lado também, não sendo preciso ser de imediato, portanto talvez ainda haja tempo para fazê-lo.

Acertos da atual Política Externa do Brasil

  1. A Rússia não é a mesma ameaça que a China, portanto não deve ser temida igualmente: A China tem uma clara estratégia de dominação global, o que pode colocar o mundo sob a égide de uma superpotência comunista pós-moderna e genocida. Já a Rússia enfrenta muitos problemas separatistas internos e vê sua influência nos vizinhos diminuindo. Além disso, a Rússia se aproxima mais do Ocidente do que os chineses, o que coloca Moscou como uma ameaça bem menor do que Pequim, portanto não deve ser temida de igual forma. Algo que o próprio ex-Presidente Donald Trump via ao focar sua diplomacia no embate com os chineses e não com os russos.

  2. A visita traz o retorno de uma política externa mais independente: Por mais que o Brasil defenda sua democracia e sua liberdade (ou deveria defender), um governo só pode responder por si, e defender o que tem. Outros países que sejam ditaduras ou não, o Itamaraty busca seguir o princípio da autodeterminação dos povos (mesmo que não seja propriamente "do povo"). Não se meter em assuntos internos dos países, ou alheios aos interesses do Brasil é uma boa prática para manter mercados em qualquer região do globo.

  3. Sobre a visita do monarca saudita, a Arábia Saudita é um dos principais aliados dos EUA no Oriente Médio: A despeito das críticas ao príncipe saudita, os investimentos que os árabes querem fazer no Brasil, conforme intenções alegadas na ordem de 10 bilhões em diversos setores, não podem ser ignoradas, principalmente em um país que depende de investimentos externos diretos. E, como a Arábia Saudita é um aliado tradicional de Washington, não gera tão grande prejuízo para a diplomacia brasileira frente aos Estados Unidos. E há um ganho maior ainda: Diferente da aliança com outras autocracias no passado (Irã, Cuba, Venezuela, Angola), pelo menos essas agora visam recursos entrando no Brasil e não saindo.

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