Há muitas falas ignorantes a respeito da saída da montadora do Brasil. A verdade é que a multinacional enfrenta a sua maior crise da história.
Quem fala de economia e acusa um único fator responsável pelos problemas ou distorções só demonstra sua total falta de intelecto (ao menos no que diz respeito a economia). E foi justamente cometendo tal falha analítica que pessoas tem usado o anúncio da saída da Ford de nosso país. Há um único fator atual? Ou há uma série de congruências para isso? Estaria o Brasil passando por um processo de desindustrialização? Trazer luz para essa e outras indagações é fundamental para compreender a saída dessa empresa multinacional de nossas terras.
A primeira análise a ser feita é o contexto de hoje. A pandemia da Covid-19 é sem dúvida o pano de fundo para a crise que vivemos (e já vínhamos da herança maldita deixada pelos governos petistas quando o crescimento econômico brasileiro começou a patinar). Em decisões de economia por parte de autoridades, certas ou erradas, o efeito não é percebido do dia para noite, mas há um tempo para que a inércia das atividades produtivas sintam. Quanto mais drástica uma mudança, mais rápida será a percebida. Com isso, afirmar que a saída da Ford do Brasil é causada por culpa do atual Presidente não é apenas um equívoco, mas uma real militância contra ele por questões político-ideológicas. O Brasil já vinha numa terrível crise fiscal e de confiança por decisões econômicas equivocadas, tomadas ironicamente pela economista e Presidente Dilma Roussef. Decisões essas que manifestaram seus efeitos justamente a partir do fim de seu mandato (encerrado pelo Vice Michel Temer).
2020 foi um ano que não servirá de padrão para comparações, afinal todo o mundo sofreu com a pandemia e seus efeitos pela economia. E antes de 2020, Bolsonaro estava apenas no primeiro ano do seu mandato, não é viável implementar mudanças tão profundas que o Brasil carece com urgência de forma tão rápida em apenas 1 ano. Aqui a atenção volta-se ao Ministro Paulo Guedes. O chefe da pasta econômica busca incessantemente o consenso para reformas fundamentais ao país como a reforma tributária, reforma política e reforma administrativa. Essas três são monumentais desafios não pela ineficiência de Guedes ou do Presidente, mas sim pela teimosia e egoísmo das principais classes afetadas por essas reformas: Servidores públicos de todas as esferas e políticos. É uma luta contra a máquina que, nos últimos 30 anos, sob a desculpa de "legalidade, imparcialidade e probidade" tornou-se monstro devorador da economia. O Brasil trabalha muito mais para pagar salários do que para efetivamente produzir. Assim, alegar que possíveis notícias negativas são fruto de má gestão do atual governo, é no mínimo injustiça e militância política.
Agora, saindo do foco no governo, a empresa citada no início que "abandonou" o Brasil. A Ford, em 2019, anunciou um forte plano de reestruturação com a demissão em todo o mundo de 7 mil funcionários, além de rever toda a estratégia de mercado ao redor dos continentes. Essa opção foi feita muito antes da pandemia e inclusive a saída da Ford do Brasil já era esperada por especialistas de mercado automotivo. Há um ponto interessante levantado por uma reportagem do site uol: Por que picapes como a Ford Ranger são feitas na Argentina e não no Brasil? A opção de produção das picapes em terras de nossos "hermanos" foi muito mais uma economia de escala do que propriamente uma opção por desistência do mercado brasileiro. O que não é informado pela matéria do site, é que a Ford quando anunciou a sua estratégia global para mercados emergentes, informou que focaria na América Latina a produção de veículos comerciais (para uso a trabalho) e utilitários. Agora, o que diz no texto do portal uol é que a Argentina possui um mercado relativo muito mais aquecido e convidativo para esses veículos. A Argentina possui estradas precárias, muito uso comercial e rural para essa categoria. Portanto, é muito melhor investir menos, (até porque o Peso Argentino não vale nada e o investimento será muito menor em comparação com o Brasil por essa simples diferença cambial, já que para as montadoras tudo é calculado em dólar), em um mercado já afeto ao tipo de veículo que será produzido.
Trinta anos de aumentos de gastos públicos. Trinta anos de aumentos do que mais impacta na máquina estatal: Salários e benefícios. Trinta anos de pessoas preguiçosas que se aposentam com menos de 50 anos de idade. Trinta anos de altos impostos, péssima infraestrutura (aliás, ponto que é inegável, o empenho do governo de Bolsonaro), e mão-de-obra cara. Acrescente uma empresa que "vai mal das pernas" e busca uma produção menos custosa, e a saída da Ford de nosso país começa a ser vista com mais honestidade. Mas, de fato a ineficiência e falta de competitividade do Brasil é grande. É como um navio gigante com um leme pequeno (os poucos que realmente querem que o país dê certo, independente se é para esse ou aquele político). Virar o leme, não quer dizer que ele fará uma curva de quase 180º instantaneamente. Leva tempo e há aqueles que insistem em não deixar o leme virar, e o puxam de volta para a rota atual, mesmo vendo o iceberg logo a frente. Afinal, querem que o barco bata no iceberg, mesmo com o risco de naufrágio, pois poderão culpar o comandante.
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