A contabilização de mortes, assim como a contagem de vacinas, ambas são fonte de forte polêmica. Defensores de medidas restritivas como lockdown, usam os números absolutos de mortes para reforçar a tese de que a doença é altamente letal. Da mesma forma, aqueles que afirmam uma lentidão de vacinação colocam os números de forma relativa. Por que essas contagens não revelam a realidade da forma correta? Responder essa pergunta é o intuito do texto a seguir.
Com o começo da pandemia, os meios de comunicação começaram a contabilizar casos e óbitos. A contagem foi aumentando, os números contabilizados sempre de forma absoluta, ou seja, 1 óbito, 1 número adicionado aos placares. Mas há um fator a ser observado para trazer a contagem apropriada: O vírus é um organismo biológico. Diversas viroses atacam as pessoas todos os anos. Portanto, falar que 312 mil pessoas morreram, jogando o dado de forma isolada aparenta um número excessivo de mortes. Mas já temos 1 ano de pandemia, e isso representa menos de 1/3 das pessoas que morrem anualmente no país. E antes que se pense que o objetivo aqui é desmerecer as mortes, esta é uma análise estatística, qualquer pessoa importa e o ideal seria que ninguém morresse de doença, violência, nem de velhice, mas não somos imortais.
Portanto, analisando que essa contagem absoluta de mortes tende a exagerar o problema, o cálculo relativo elucida mais. E de forma relativa, considerando 315 mil mortes (arredondando o número), isso equivale a mais ou menos 2,5% dos que foram infectados pela Covid-19. Ou seja, mesmo sendo um organismo que se prolifera sem depender de infra-estrutura, sem depender de aplicações e instrumentos, o vírus causou um número relativo baixo de óbitos.
Por sua vez, o número de vacinas é divulgado por meios de comunicação com uma contagem relativa, dentro de uma lógica semelhante à ideia do número relativo de mortes. A proporção de pessoas da população geral que foi imunizada, apresenta um quadro que traz a relação da parte com o todo. Essa visão traz a impressão de que há uma vacinação letárgica, pois são ao todo mais de 210 milhões de habitantes, e até o momento foram apenas algo em torno de 7% que receberam alguma aplicação. Uma marcha lenta que é usada inclusive como base para opositores alegarem incapacidade do governo.
Vacinar não é como infectar. A infecção ocorre de forma involuntária e pela proliferação viral. Já a vacinação depende da vontade humana, mesmo que por algum acesso autoritário seja obrigatória a imunização. A pessoa precisará ir até o local no qual receberá o antiviral, que precisa ser encaminhado até lá também. E há toda a logística envolvida no processo: Fabricação, envasamento, rotulação, registro, despacho, envio, transporte, receptação, distribuição e aplicação. Assim, é uma operação humana que não pode ser contabilizada de forma justa em números relativos, pois cada dose unitária teve toda uma logística para chegar até a pessoa a ser vacinada. Assim, a conta mais justa a ser feita nesse caso é a de números absolutos, e no último sábado, dia 27/03, foram imunizadas quase 1 milhão de pessoas em um único dia.
Finalmente, os números são importantes para estudarmos e nos prepararmos para situações semelhantes. Analisar dados é fundamental, mas análises honestas trazem resultados e geram informações mais úteis e precisas. Porém, infelizmente, para certos grupos, o importante não é a análise honesta, e sim a análise lucrativa, a deturpação da realidade em benefício próprio ou de objetivos de seu interesse. Assim, antes de se apavorar ou achar que não há importância nos números apresentados, informe-se melhor e tire suas próprias conclusões que podem ou não serem iguais aos jornais.
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