76 anos após o fim da II Guerra Mundial, quando o Oeste pensou ter vencido a batalha final contra o autoritarismo e a intolerância, comemorávamos a vitória dos Aliados sobre o Eixo. Pensamos que tínhamos ganho, e o auge dessa soberba veio com frases como: "O fim da história"; ou ainda "O capitalismo venceu". É duro quando a realidade pega em nossos braços, nos chacoalha e diz: Acorde, antes que seja tarde! Até os últimos dois dias, considerava as pessoas que compararam qualquer evento ou ação (de direita ou esquerda nos dias de hoje) com Fascismo ou Nazismo, exageradas no mínimo. Porém, irei demonstrar que há um lado usando táticas e tomando atitudes similares demais com as do Partido Nacional-Socialista Alemão.
Um evento triste e vergonhoso na história da humanidade, precursor do maior conflito da história humana, foi a famosa Noite dos Cristais (Kristallnacht) em 1938. A Alemanha Nazista deflagrara a maior perseguição a uma etnia já vista: A perseguição aos judeus. Hitler e seus asseclas consideravam o povo de Israel como uma ameaça à Alemanha pura e forte. Afinal, na visão deles, os descendentes de Abraão eram ricos e vivam muito bem, enquanto o povo alemão, povo esse que trabalhava e lutava por uma Alemanha forte e próspera viviam em condições inferiores. Assim, criou-se a ideia da necessidade de exterminar o chamado "problema judeu". Nas noites de 9 e 10 de novembro de 1938, Hitler autorizou a perseguição e registro de todos os judeus que seriam encaminhados para campos de trabalho forçado (os conhecidos campos de concentração de judeus).
O evento da Kristallnacht foi o ápice de sucessivas ações anti-semitas ao longo de toda década de 1930 dentro da Alemanha nazista e aliados como a Áustria. Em 1933, o Reich fez uma campanha deliberada e forte para alemães, visando o boicote a estabelecimentos pertencentes ou simpatizantes a judeus. Tropas de choque nazistas posicionavam-se na entrada de lojas, e cartazes eram colocados com dizeres como "Não comprem de judeus". Posteriormente, houve proibição de circulação em áreas públicas, leis proibitivas para o povo de Israel frequentar universidades alemãs. Finalmente veio a Lei de Nuremberg, em 1935, praticamente tirou todos os direitos de judeus e acirrou ainda mais os ânimos. E, em 1938, com a comunidade judaica enfraquecida, foi lançada a manobra que prendeu e encaminhou qualquer semita aos campos de trabalho forçado pelo território alemão.
Ao longo da preparação desse texto, me perguntei no início se não era exagerada a comparação dos fatos recentes das redes sociais com a Noite dos Cristais de 1938. Mas a semelhança de fatos que precederam os fatídicos dias daquele outono distante, e dos dias atuais é assustadora. Farei um paralelo breve da atualidade para melhor compreensão: Há mais de ano, um perfil no Twitter chamado Sleeping Giants vem ostensivamente denunciando seletivamente perfis de praticarem algo não tipificado juridicamente: A prática de "fake news". A denúncia seletiva escolhe perfis de determinados sites com um viés político-ideológico distinto do Sleeping Giants, e (como se esse perfil fosse a "Tropa de Choque" ficando na porta dos estabelecimentos) há a denúncia de "fake news" aos anunciantes para que cessem os anúncios no site, e também estimula as pessoas a realizarem boicote. Contudo, essa prática não foi a mais assustadora. Com a discussão da obrigatoriedade da vacina na atual pandemia, sob a desculpa da diminuição de propagação de vírus, pessoas influentes, políticos e juristas defenderam a restrição de locomoção em áreas públicas de pessoas não vacinadas (sabedores esses que os opositores das vacinas mal testadas e pouco comprovadas quanto à eficácia são as pessoas conservadoras de direita). Assim, seria possível legitimar a restrição da liberdade dos opositores, "ameaça à sociedade contemporânea".
O ápice dos eventos descritos no parágrafo anterior foi visto nos últimos 2 dias. Perfis foram cancelados, bloqueados, restringidos o alcance ou banidos definitivamente nas principais redes sociais. Todos ligados à direita mundo afora e ligados ao Presidente Donald Trump dos EUA, por discordância ideológica, e por regras de uso vagas, aplicadas com muito mais rigor aos conservadores do que a progressistas (já que a ideologia reinante nas "Big Techs" é progressista). É o mesmo que aprisionar as pessoas representadas nesses perfis para impedir-lhes terem voz, amordaçando-as e banindo elas do convívio social. Apesar de ter sido uma censura sem pudor, pessoas que se consideram "defendesores da democracia" aplaudiram as ações em nome da mitigação dos riscos de uma "ameaça". Diversos jornalistas e personalidades (que já brigaram com as redes sociais por terem tweets e postagens banidos ou restritos, ou por terem vídeos bloqueados, desmonetizados ou suspensos), defenderam a ação "em nome da paz" e para servir de lição a outros que possam se tornar "um agressor" da ordem vigente.
É assustador ler esse texto, pois eu enquanto escrevia percebi uma semelhança muito forte da Kristallnacht de 1938 e dos últimos dois dias. Contudo, acredito que ainda não chegamos no mesmo nível da Alemanha nazista. O que não quer dizer que não devemos temer e nos preparar. Por fim, encerro minha reflexão ao mencionar a forma como os nazistas se referiam aos judeus. A população alemã e austríaca apoiadora de Hitler chamavam os judeus de ratos (uma forma de humilhar o povo de Israel e também em analogia aos esconderijos que eram usados para escapar das patrulhas da SS como esgotos, lixos, cantos sujos e escombros). Em meio aos eventos nas redes sociais dos últimos dias, abro aspas para um youtuber do Brasil militante do progressismo, a conclusão deixo para você, leitor:
Que Noite! Trump banido. General Flynn banido. Sydney Powell banido [ele não sabia que Sydney Powell é mulher]. Todos criminosos e articuladores de desinformação e ódio. A extrema direita estava toda migrando pro 'Parler'. O Google baniu o app agora. A Apple tb vai banir. Os ratos estão correndo pra tudo que é canto.
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