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Direita e Esquerda: Para entender o que é o que, e onde o Brasil está nisso tudo.

Um exercício sobre os espectros políticos do Brasil e como estamos enviesados à esquerda.


A eleição do atual Presidente serviu para tirar a esquerda da zona de conforto, com a ascensão de vozes direitistas e conservadoras. Mas afinal, o que é direita e esquerda? Por que são assim nomeados os lados políticos? É preciso compreender que há diversas vertentes de ambos e não podem ser resumidos a uma única esquerda e uma única direita. A imagem acima é uma ilustração disso com a organização dos espectros políticos no Brasil. Entenda ao ler o presente texto que não se pretende esgotar o assunto aqui, se não apenas salientar os principais traços desses alinhamentos e aonde levam do ponto de vista socioeconômico e político também nosso país.


1. Esquerda: Abriremos mão de nossa liberdade, pois o Estado sabe mais.

Antes de falar sobre a esquerda em si, cabe informar como surgiu essa ideia de que Progressistas são de Esquerda e Conservadores, de Direita. A Revolução Francesa não foi um divisor de Eras a toa. Quando eram executados os trabalhos da Assembléia Constituinte em 1789, os favoráveis ao fim do regime monárquico absolutista de forma radical sentaram à esquerda do plenário, e os conservadores sentavam-se à direita pela preservação dos legados e história francesa.


Uma diferença fundamental entre Direita e Esquerda é a manutenção de princípios e valores de uma sociedade. A esquerda é focada na revolução para desprender-se das tradições, costumes e história que (nas visões socialistas-marxistas) são instrumentos da dialética material que escraviza o proletariado. A esquerda vive de maniqueísmos da realidade quase sempre resumindo tudo em luta de classes. É o patrão que explora o trabalhador, o burguês capitalista que explora o sistema para ganhar dinheiro fácil em cima da cadeia produtiva, a religião que é usada como instrumento de contenção de uma sociedade disciplinada, os heterossexuais que discriminam e segregam homossexuais, negros que precisam "cobrar uma dívida histórica" dos brancos, estrangeiros que ameaçam a soberania e o bem-estar de uma sociedade, entre outros.


Há outro ponto para o posicionamento político de esquerda: O nível de presença do Estado na vida social. Nos espectros políticos, quanto mais se caminha à esquerda mais se observará a autoridade estatal intervindo na sociedade e até na intimidade do indivíduo. Partindo do centro, o primeiro nível da esquerda é o Estado do bem-estar social. Esse espectro foi amplamente usado em países europeus e latino-americanos, por entender que o Estado deve prover as condições básicas para a sociedade, além de educação, saúde e o bastante subjetivo "bem-estar". Essa região é a mais abundante da política no Brasil, com diversos partidos políticos de forma teórica mas principalmente na prática exercendo ações e promovendo a social-democracia. Extensivas políticas públicas nas mais diversas áreas, como as famosas "ações afirmativas" (cotas para o ensino superior, concursos públicos, aparelhamento do Governo central para oferecer o básico), permissão da iniciativa privada de forma limitada e a propriedade privada com a possibilidade de eventuais confiscos do Estado são exemplos.

Mais a esquerda, observa-se o aumento do Estado. A Estrutura do Governo é vista como resposta da escolha social, portanto o cidadão abdica de forma mais ampla da liberdade, e deixa que a autoridade instituída dite regras inclusive em questões íntimas como opções religiosas (geralmente eliminando e perseguindo religiões por considerá-las uma forma de dominação). A economia é controlada pelo Estado que dita o que, quando e onde produzir (o processo de planificação econômica). Para isso, é necessário extinguir a propriedade privada de opositores e promover o acúmulo de riquezas dos apoiadores do regime. Poder e vigilância criam um Mega-Estado com alta capilaridade na sociedade em prol da segurança e estabilidade do sistema que por suas características acaba sendo autoritário.


Logo, na extrema esquerda encontra-se o pior e mais terrível que a humanidade já testemunhou até hoje. O Partido Nacional-Socialista de Hitler que era xenófobo ao extremo, eliminava os estrangeiros ameaçadores do enriquecimento da nação alemã (isso personificado nos judeus hábeis em negócios na Europa), o expurgo de opositores e direcionamento econômico para promover o bem-estar social da "raça ariana", a interferência econômica para equiparar as classes médias e mais baixas planificando a economia. O Fascismo italiano que seguia o Nazismo na xenofobia, tinha a rejeição a minorias como homossexuais, deficientes, além de ser intolerante com opositores internos, perseguindo-os implacavelmente. E por fim, o Comunismo implantado pela Revolução Russa que assassinava qualquer resquício de liberdade e de representação capitalista. Muito ocorrido atrás da cortina de ferro ainda hoje é mistério. Mas relatos foram comprovados de execuções em massa de religiosos, empresários, opositores da opressão comunista, até infanticídios de crianças que não respeitavam a autorização estatal para se ter filhos.

2. Direita: A liberdade do indivíduo é inadiável, ao Estado nada além do essencial.


Agora vamos à direita. Enquanto do outro lado busca-se segurança oferecida pelo Estado em detrimento do indivíduo, um posicionamento político destro mira a liberdade do ser humano como ser racional. Essa alforria não pode ser dissociada da preservação do passado construído por uma pessoa, ou grupo de pessoas, e também não desrespeita culturas seculares, e nem as regras já instituídas. Diferente do modo de produção socialista, aqui a propriedade privada é essencial como parte do construto social, inclusive sendo a autoridade do Estado limitada em muitos casos à autoridade do proprietário em suas posses. Isso gera forte dinamismo econômico e mais estímulo para a inovação e o desenvolvimento através do capitalismo.

Ao liberal, é permitido evoluir seu pensamento livre daqueles que ditem o que é bom ou não. O ser humano é visto como racional e esclarecido o suficiente para tomar suas próprias decisões. Contudo, a convivência em coletividade ensina também que de fato abusos podem ocorrer quando não se há o mínimo de autoridade instituída. Assim a figura do Estado não é abolida na centro-direita, sendo a área frutífera da democracia liberal. Nesse regime democrático respeitador das liberdades individuais, a autoridade do Governo deve-se limitar à garantia do respeito de regras claras, objetivas e mínimas para que não limitem o indivíduo. É o terreno preferido do capitalismo, que percebe garantias mínimas de estabilidade, mas não vê-se impedido no dinamismo que precisa para prover o crescimento econômico como modo de produção e a inovação competitiva.

Ao se optar pela direita, não há como dissociar a liberdade do conservadorismo. A prudência em um cenário onde se tem várias escolhas é indispensável. Sem isso, sem o respeito racional ao outro, sem a honra ao passado, sem o aprendizado com a história que se evita erros futuros, o homem seria simplesmente um animal destinado a viver em eterno conflito numa espécie de "resta-um". Por isso que a direita conservadora e liberal apresenta-se como opção saudável e contrapeso à social-democracia cheia de regras e amarras. A ausência disso levaria ao extremo da direita que é a liberdade total e a ausência completa do Estado, a Anarquia.

A Anarquia entende-se como a ausência de uma autoridade estatal instituída na sociedade. Não é a ausência de regras como muitos pensam, mas é o respeito à total liberdade do indivíduo para que ele, por si só, busque o que almeja sem limitações e sem a supervisão de alguém que possa podar ou limitar-lhe o potencial. É um extremo de ausência estatal, tanto perigoso na teoria quanto utópico na prática. Afinal, é natural do ser humano (ao longo das eras) a necessidade de uma organização através de um contrato social que limite, até certo ponto, sua liberdade em prol da convivência coletiva. Talvez por sua utopia que o extremismo à direita seja bem menos temido do que à esquerda que oferece repletos exemplos tenebrosos ao longo da história.


3. Os espectros políticos brasileiros demonstram uma falta de balanço político


É visível pela imagem inicial (e mesmo com as discordâncias que sei que haverão) a pendência à esquerda da política brasileira. Somos um país que aparelha o Estado, que busca opor lados para criação de políticas públicas (cotas para ensino em universidades, leis que protegem grupos que já são protegidos por outras leis, o uso da desigualdade social como ferramenta para ganho e exploração política). Além disso, a rejeição observada a Jair Bolsonaro (o primeiro candidato mais autenticamente de direita após décadas) por parte do establishment progressista demonstra o desequilíbrio político no país.


Essa hegemonia trata-se de um resultado natural ao repúdio do período do regime militar, favorecida também pela crescente progressista dos anos 90 e anos 2000. Esse período ficou marcado pela ampliação dos organismos multilaterais mundo afora, busca do favorecimento de países menos desenvolvidos como é feito com as populações mais pobres no Brasil, em detrimento do respeito das liberdades de cada país e de um cenário internacional menos restritivo. Essas condições consolidaram, em conjunto com as promessas de melhorias socioeconômicas e cooptação de diversos segmentos como mídia e elites de cada país, a posição confortável de sociais-democracias mundo afora.


Porém, a decepção com promessas não cumpridas e a tendência à corrupção por aparelhamento de instituições por parte da esquerda, abriu uma brecha para o reflorescimento da direita em diversos países. Esse fenômeno precisa seguir como contrapeso ao domínio progressista, o que favorece democraticamente a todos. Pois cria-se um contraditório e opção real para evitar o panorama no qual governos (que se fingem opositores entre si) alternam-se no poder, mas na realidade são o mesmo, só com cara diferente.

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