A Argentina observa uma espécie de replay das eleições brasileiras nos embates entre direita e esquerda: Milei versus Massa foi o embate da noite.
Um país em caos econômico. A Argentina é uma espécie de caso praticamente perdido. Décadas apostando na expansão monetária e estatização econômica, tornou o país a um verdadeiro "estadão econômico", no qual para participar da economia, é fundamental ser um empregado público, ou empregado de alguma grande multinacional. O resultado: 40% de argentinos marginalizados e na miséria (se não mais). E no debate desse domingo, Massa não conseguiu convencer que irá fazer melhor do que tem feito como Ministro da Economia argentino.
Há algumas semanas, o atual Presidente do Brasil, Lula, se encontrou com Sérgio Massa, e traçaram muitos planos para resgatarem o país através de mais expansionismo monetário, com a ajuda do BNDES. Massa demonstrou isso no debate ao afirmar que a Argentina irá investir na ideia desenvolvimentista e tentar mais uma vez patrocinar o aumento econômico com o investimento do Estado. A mesma ideia do arcabouço fiscal apresentado por Fernando Haddad no Brasil. Contudo, há um problema sério apontado por Javier Milei: a moeda argentina não tem valor e a economia está estrangulada pelo Estado, que vive do dinheiro do povo, e precisa, para patrocinar o crescimento econômico, aumentar os impostos, o que estrangula o próprio crescimento por outro lado.
Patrícia Bullrich, por sua vez, uma autêntica tucana, como seu padrinho político o foi: Maurício Macri. Insossa, com frases fracas, com falas soltas sobre acabar com a inflação argentina que (apenas no setor de alimentação) ultrapassa 400%, mas sem um plano efetivo apresentado. Bullrich tentou antagonizar Milei, apresentando-o como um personagem que não é fora da "casta politica", ao indicar que a sua vice é atrelada ao militarismo e à segurança pública do país, além dele próprio ser um deputado e funcionário do Estado. A despeito disso, Bullrich representa uma continuidade moderada do expansionismo estatal, e por isso não pode se comprometer com um mudança total de rumo, como mostrado por Milei.
Milei por sua vez apresentou suas propostas de forma clara, direta e sem rodeios. Soube utilizar bem seu tempo de fala e bateu forte em Sérgio Massa. Expôs pontos da péssima gestão da economia dos hermanos (da qual, o peronista é responsável). Milei tem um plano que é o adequado para uma situação radicalmente trágica, com soluções que mudem o rumo completo da economia do país, com abertura, desregulamentação e corte de gastos estatais. Finalmente, o candidato se colocou opositor a todos que representam algum tipo de manutenção do expansionismo econômico e a do Estado. Milei contudo compreende que é um plano de longo prazo, e que seu mandato seria apenas o início de um ciclo que, segundo sua fala, seria necessário pelo menos 15 anos para chegar a níveis de países desenvolvidos.
Os outros temas argentinos ficaram em segundo plano plano, uma vez que com as pessoas passando fome, pobres e desacreditadas do futuro, o mais imediato é suprir as necessidades básicas. Contudo, cabe o destaque para o debate dos temas de Educação, no qual foi visto praticamente um 1x4 (Milei vs. os demais), com o único trazendo uma proposta mais concreta e distinta foi Milei, inclusive propondo a introdução de uma educação que respeite os valores familiares tradicionais.
O interessante é que mais uma vez (assim como no Brasil) o sistema peronista, ao ver o crescimento ameaçador de Javier Milei, acionou os mesmos mecanismos que se viu ano passado aqui. Pesquisas eleitorais que inflam um lado em detrimento do outro. Assim, Milei e Massa em algumas pesquisas estão tecnicamente empatados pela "margem de erro". Contudo, as pesquisas do 2º turno argentino indicam uma folga maior de Milei sobre Massa, o que pode indicar uma virada de jogo ao longo do percurso. O que acontecerá com nosso vizinho mais importante? É preciso acompanhar as próximas semanas.
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