Acompanhe mais um artigo da série: Bem-vindos à Nova Ordem Mundial, com a terceira parte sobre a economia global.
Em continuidade nos estudos sobre a formação da Nova Ordem Mundial, em específico na formação econômica dessa ordem, talvez o principal artigo sobre a economia em escala planetária, seja esse que tratará das Cadeias Globais de Valor (CGV). Para compreender como são usadas na instituição da Nova Ordem Mundial, precisamos conceituar, entender o porquê do surgimento das CGV, e finalmente contextualizar na realidade de implementação de um governo global único.
Afinal, o que é uma cadeia global de valor? Para isso, vamos estudar o que é dito por Carneiro (2015) em seu texto "Fragmentação internacional da produção e cadeias globais de valor"¹. Ele conceitua como:
[Cadeia global de valor] compreende todas as etapas e atividades, em sentido amplo, envolvidas na produção e na distribuição de um produto – não apenas a produção propriamente dita (inclusive dos insumos, partes e componentes utilizados), mas também toda gama de serviços envolvidos, desde o design até o marketing, a distribuição e o suporte pós-venda.²
Assim, celebra-se um processo totalmente internacionalizado, no qual um produto não necessariamente tem todas suas etapas compreendidas dentro de uma única Nação. E porque isso surgiu afinal? Por que as empresas precisaram passar a usar essa forma de produção para conseguirem mais eficiência e maior alcance de seus produtos/serviços? Para isso, Carneiro remonta o clássico Adam Smith e sua divisão do trabalho que, por mais que as evoluções humanas alterem, é, em muito, a base do modo de produção capitalista.
A observação de que a divisão do trabalho aumenta a eficiência e reduz custos é tão antiga quanto a ciência econômica, como deixa claro o célebre exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith. A separação da produção em mais e mais etapas ou atividades – cada uma executada por um agente diferente – aumenta a produtividade, mas cria um problema adicional: é necessário coordenar as atividades dos vários agentes. Evidentemente, a complexidade da coordenação – e, por consequência, seu custo – será tanto maior quanto maior o número de etapas em que a produção é dividida.³
Portanto, a ideia das CGVs é justamente trazer essa eficiência para empresas que, com o advento da globalização no fim do séc. XX, buscam cada vez maior alcance global. E isso, sempre buscando redução de custos, o que é possível com a possibilidade de fragmentação da produção. Exemplo: Uma empresa montadora de carros na Europa, precisa da matéria-prima, abundante em países como Brasil, Venezuela e África. Portanto, para não ter que ir até esses países, abrir uma empresa que explore essa matéria-prima, ela busca um fornecedor nessas regiões que possa oferecer tais insumos nas condições exigidas (aço, ferro, alumínio, etc.).
Por sua vez, por serem países subdesenvolvidos, será muito difícil achar mão-de-obra qualificada para tarefas mais exigentes como engenharia mecânica, desenvolvimento do design, análise de eficiência energética. Assim, essa mão-de-obra com maior estudo, via de regra, ou é buscada nos países com maiores níveis educacionais, ou é capacitada nesses países. Sem idealismos de buscar a tal "igualdade entre os povos", a "empresa líder", nas palavras de Carneiro, que detém o papel de governança da cadeia de valor, precisa de eficiência e vai buscar a mão-de-obra qualificada aonde ela está, não aonde ela poderia estar.
Compreendida o que é, e o porquê da existência de uma CGV, agora cabe compreender como elas são usadas para implementação de um governo global. Retomando a fala de Carneiro, ele denuncia a "complexidade da coordenação" de uma cadeia muito longa que tenha várias etapas, em vários países. Mas no que de fato consiste essa complexidade? No exemplo da montadora de automóveis, ela precisa extrair matéria-prima em países diferentes, além de montar o carro talvez em um terceiro. E precisa respeitar os níveis de qualidade exigidos para que o produto final saia dentro das especificações desejadas pelos clientes. Só esse problema traz um terror em termos de alinhamento de normas técnicas, regras de produção, leis trabalhistas que impactam na produtividade e no desempenho da cadeia. Sem mencionar os problemas com importação/exportação de um país para outro, na sequência da cadeia até o produto final.
Mas não é apenas esse terror logístico, há também as questões políticas. Suponhamos que se tenha uma cadeia que passa pela produção de chips eletrônicos na Inglaterra, e o produto vá ser vendido em um país que não tem um bom histórico de relacionamento com esse país, como a Argentina? Caso o governo inglês não ache interessante tal relação comercial, poderá colocar barreiras indiretas à venda, ou até mesmo vetar que o produto seja vendido a esse país. Exemplo disso, foi o caso da compra argentina de caças da Coréia do Sul, que utilizavam componentes eletrônicos ingleses. Os britânicos impediram que a venda das aeronaves fosse concretizada*.
Portanto, mais uma vez, os Estados-Nações entravam um avanço capitalista. Assim, há a necessidade de eliminar essa autoridade estatal nacional forte, em nome de uma autoridade que detenha soberania e mandato efetivo sobre as nações, de forma a impedir que esses atritos entre Estados sejam impedimentos para uma produção global real, e sem entraves. E isso só é possível com a Nova Um, uma autoridade com mando sobre todo o planeta Terra e sobre toda a humanidade, para que as CGVs possam ser livres para produzir, vender e comprar como bem entenderem, e com regras universais, sem as diferentes leis de diferentes nações. E nesse ponto, há uma simbiose entre grandes corporações globais e as elites globais para implementarem essa realidade. Mas esse será o tema do próximo artigo da série. Continue acompanhando.
Referências:
1. Carneiro, Flavio L. (2015) : Fragmentação internacional da produção e cadeias globais de valor, Texto para Discussão, No. 2097, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Brasília.
2. Carneiro, 2015, p. 8.
3. Carneiro, 2015, p. 10.
* https://ukdefencejournal.org.uk/uk-blocks-sale-of-south-korean-fighter-jets-to-argentina/
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