A jogada de Bolsonaro com a nota de ontem coloca o STF numa posição defensiva e menos confortável.
O jogo político é muito maior do que se vê nas telas e redes sociais. Bolsonaro emitiu ontem uma nota que trouxe certo burburinho em meio aos seus aliados. Contudo, após 1 dia, a maioria já voltou atrás e compreendeu a temperança do Presidente. Para compreender a ação, primeiro é preciso analisar o cenário econômico, político e a posição que o STF se encontra após o Chefe do Executivo estender a mão para um acordo com o outro lado.
A economia e a política são fundamentais no caso. O movimento de 7 de setembro foi maior do que qualquer um podia prever. Após as gigantescas manifestações, muitos brasileiros permaneceram engajados tanto em Brasília como em outros pontos do país. Dessa forma, Bolsonaro trouxe seu poder popular às ruas e mostrou que não é fraco como alguns jornais e institutos de pesquisas demonstram. Assim, Bolsonaro tinha o povo ao seu lado, o momento ideal para avançar e reagir às provocações do STF com força e vigor do apoio popular. Mas, prudentemente, analisando as consequências, o Presidente decidiu não "degolar" os inimigos e, quase em um ato de misericórdia, estendeu a mão para o diálogo, como um herói que após derrotar o vilão e ter a chance de aniquilá-lo, oferece a mão para salvá-lo.
Além da política, economicamente, a atitude de Bolsonaro foi prudente e evitou um agravamento da crise provocada pelos lockdowns da pandemia em que vivemos. Compreendeu que as consequências trariam miséria e dificuldades para as classes menos abastadas que seriam as maiores sofredoras com a ruptura e até uma possível guerra civil entre apoiadores do Presidente e opositores. Assim, imediatamente a BOVESPA retomou o rumo de crescimento e o dólar despencou ontem e hoje. Além disso, essa atitude garante que o Congresso terá que apoiar as virtuosas reformas promovidas pelo governo e muitos do centrão que encenavam deixar o apoio ao governo, devem retomar as pautas reformistas.
Finalmente, mas e o STF? E os arbítrios cometidos pelos togados? Aqui mora talvez a maior esperteza da nota. Bolsonaro era acusado de autoritário, golpista, contra as instituições e contra a democracia. No dia 7, com um massivo apoio popular, Bolsonaro tinha como avançar e seguir o caminho que levaria talvez a uma destituição de pelo menos Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Porém, ao optar por não fazê-lo, e além disso, ao estender a mão para o diálogo e a paz institucional, o Presidente deixa o STF exposto. Afinal uma negociação prevê cessão de ambos os lados, e caso o STF faça acenos tímidos ou não ceda em seus arbítrios, acabará dando a razão para Bolsonaro agir por exemplo com a convocação do Conselho da República, e o povo voltará às ruas, porém dessa vez sem misericórdia.
Portanto, uma ação inteligente e política, como Bolsonaro sempre alegou ser. A nota é um verdadeiro exemplo de democrata, estadista e conservador que oferece a misericórdia. Ao STF caberá, ou aceitar as negociações, ou ignorar e arcar com as consequências. Bolsonaro sempre falou: "Eu não sou um salvador da pátria". O Presidente é apenas um homem conservador eleito após mais de 3 décadas de hegemonia política da esquerda. E lembrando que esse domínio permanece em campos chaves como cultural e acadêmica. Bolsonaro não é um herói, apesar de ter agido como um, ele é apenas um mensageiro dos conservadores no país.
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