Prepare-se para introdução de uma sequência longa e robusta de artigos.
Por muitas décadas, desde quando eu me entendo por gente se fala na busca por uma Nova Ordem. Quando eu era criança ouvi nomes como Nova Era e Mundanismo. Hoje há termos como Globalismo, Nova Ordem Mundial, Governança Global. A verdade é que todos se referem a uma mesma ideia: A humanidade é uma só e precisa de um único governo no planeta Terra, dentro dessa perspectiva, para acabar com nossas guerras e conflitos internos. Contudo, imaginar essa possibilidade traz muitas controvérsias e desafios em todas as esferas de atuação humana.
Politicamente é um esforço descomunal. Afinal, é preciso quebrar com dois paradigmas que norteiam os países desde quando surgiu o Estado Moderno: A soberania sobre o território e o monopólio do uso da força do Estado local de acordo com seus interesses. Ambos precisariam ser quebrados em prol de um governo superior global para que houvesse efetividade (aliás um dos grandes entraves para implementação de medidas da ONU em países é justamente o próprio conceito do Estado Moderno). Logo, para que seja politicamente viável essa implementação, é preciso desgastar a ideia de soberania e de monopólio da força do Estado local através da inserção gradual de ideias favoráveis à Nova Ordem Mundial. Além dos desafios entre nações, um único governante da Terra, que não tenha oposição que não seja do seu próprio povo, o qual estará sob seu governo e autoridade, é extremamente perigoso por facilmente poder implementar decisões ditatoriais sem outro país para o acusá-lo ou enfrentá-lo.
A sociedade humana é mais desigual em determinados países e menos em outros. Mas uma vez que se une todo ser humano em torno de um único governo, as fronteiras deixarão de existir e os fluxos migratórios serão mais intensos. Portanto, para que seja uma Governança Global, as sociedades precisam de certa forma serem mais igualitárias. E veja bem, não menciono necessariamente a melhoria socioeconômica de países em desenvolvimento, mas sim igualar todos que estejam sob um domínio único. Assim, minimiza-se movimentações de populações das áreas em desenvolvimento para áreas desenvolvidas do globo (América Latina ou África para EUA/Canadá e Europa; Oriente Médio, Europa Oriental e Ásia Menor para Europa; Sudeste Asiático para Japão/Austrália/Nova Zelândia). Esses possíveis fluxos migratórios precisam ser diminuídos para evitar a concentração humana em áreas desenvolvidas o que levaria a esses locais perda de qualidade de vida e também precarização como em zonas subdesenvolvidas.
Os esforços políticos e movimentação populacional colocarão em teste os valores do ser humano que precisarão serem guiados por um código ético-moral. Esse código que não é escrito, são conjuntos de costumes e regras aceitas pelo povo como o padrão que deve ser seguido por todos. Atualmente conceitos como privacidade, liberdade, indivíduo são valorizados por nutrirem os anseios de sociedades livres que permitem ao ser humano buscar sua felicidade de acordo com seus interesses. Contudo, o contraponto para limitar os abusos do uso dessa liberdade vem crescendo em prol da segurança coletiva, solidariedade com os mais pobres e combate ao egoísmo humano. Esse embate é o que definirá se o mundo caminhará moralmente para a Nova Ordem Mundial. Afinal, um governo único da Terra não teria condições plenas de manter-se no poder se não quebrar privacidade de pessoas e indivíduos em meio aos mais de 7 bilhões de seres humanos existentes, tampouco sem estabelecer meios tecnológicos de aceleração de geolocalização de pessoas, bens e ideias pró e contra seu governo. Portanto, a ideia de compartilhar e privar as pessoas de sua liberdade de escolha em nome de maior segurança coletiva parece ser o caminho ideal para a Nova Ordem Mundial, até por facilitar uma tendência de um governo global que será abordada mais adiante.
Além de ética e moralidade, algo que gera também um grupo de valores e costumes é a religião. Porém a religião é conectada com a metafísica, algo que vai além do conhecimento humano. Dessa forma, arguir com crenças e fé é algo que o raciocínio humano não consegue fazê-lo. Afinal, "fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem" (Hebreus 11.1). Isso vai contra todo o método científico de ver, observar e testar algo já existente porém desconhecido. Ao longo da história humana, a religião foi usada como desculpa para dominação e em muitas vezes ir contra os próprios princípios. Cristãos das Cruzadas perseguindo e matando os mouros e muçulmanos, Católicos perseguindo protestantes, muçulmanos assassinando judeus, cristãos, budistas, e as inúmeras crenças hinduístas, religiões africanas realizando sacrifícios humanos, perseguindo tribos rivais em nome da divindade, entre outros exemplos. Contudo, todas as situações foram feitas em nome do respectivo deus por interesses que são totalmente humanos. Isso gera dificuldade e divisão que não são desejadas numa futura governança única global. E além disso, é preciso entender que um governante único da Terra se colocaria numa posição que até hoje foi apenas ocupada pelas divindades, ou seja, ser governante de todos os seres humanos, para isso ser possível na mentalidade religiosa, é necessário tornar a religião algo indesejável e nocivo, o que viabilizaria a aceitação de um governante mundial.
Finalmente, talvez a área mais avançada na integração entre nações (por razões óbvias), a economia global. A Nova Ordem Mundial precisa de uma economia coesa e sem o caos cambial de moedas que atualmente existe. Dessa forma, para viabilizar uma futura moeda única, a digitalização é o próximo passo da humanidade após a abstração do valor das trocas econômicas pela moeda. Na antiguidade praticava-se o escambo (troca de mercadorias por mercadorias). Com a evolução do conhecimento humano e descoberta de minerais preciosos como ouro e prata, passou-se a usar esses minerais como forma de valorar as mercadorias. Posteriormente a escassez desses minerais mostrou a necessidade da abstração maior dos valores através da atribuição numérica de valor, surgindo então as moedas e o papel-moeda. Por último, o século XX trouxe no seu fim as trocas eletrônicas de valores que maximizaram a velocidade e segurança das transações financeiras. O próximo passo é a abstração do próprio dinheiro tornando-o virtual de forma definitiva, com ganhos evidentes em segurança e evitando grandes estruturas para guarda de papel-moeda, ou grandes casas cunhadoras de dinheiro em geral.
Mas a integração econômica não se restringe a uma moeda única. Para uma única economia humana é preciso integrar as diversas economias locais. Essa união começa pelo mercado financeiro cada vez mais digitalizado e rápido (também requisitos fundamentais para garantir as trocas econômicas globais). Além do mercado financeiro, observa-se uma manobra mais habilidosa e árdua, a geração das cadeias globais de valor, que produzem produtos, independente da nacionalidade originária deste. O melhor exemplo disso é a produção de aeronaves mundo afora. A Embraer é uma montadora de aeronaves, que usa peças e aviônicas com componentes eletrônicos de EUA, Europa, Japão, etc. a matéria-prima para estrutura dos aviões pode vir do Brasil ou outros países dependendo do metal necessário, a confecção de bancos, assentos, janelas, pneus, podem também vir de outras regiões do globo que são todas montadas na fábrica brasileira e então o produto está pronto. Não há mais a necessidade de um país deter todas as partes do processo produtivo. Assim, não só é possível ter um custo menor, como também é possível diminuir a autonomia de um país para o outro o que leva inevitavelmente a diminuição soberana do Estado.
Dessa forma, observa-se que o desafio para criar essa governança una sobre os seres humanos não é fácil, mas também é possível analisar que há um direcionamento tanto das Relações Internacionais como das sociedades humanas para viabilizar essa união. Até porque, há um último ponto que não foi elencado nesse momento introdutório, que é o desafio interestelar da humanidade, o qual abordarei no final desta série. Uma autoridade humana única deverá se deparar com a caminhada de uma civilização global rumo às estrelas.
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