Após algumas semanas parada, em virtude da agitação no cenário político e econômico atual, a série de textos sobre a Nova Ordem Mundial em construção é retomada pelo blog Sociedade Inteligente. Lembrando que para fins didáticos chamamos essa ordem de Nova Um que, assim como já vimos no primeiro texto sobre economia global, precisa integrar a economia de todos os países para funcionarem como uma única nação. Não quer dizer necessariamente igualar as economias distintas, mas tornar possível que, uma economia frágil da África e um país como a Suécia, respeitem regras e funcionem como uma única economia.
Integrar moedas é crucial para isso, como visto em Economia Global I: Uma moeda, mas outro ponto indispensável para uma economia a nível planetário é o comércio livre entre as diversas regiões. Não é possível falar em uma autoridade única terráquea sem poder movimentar a economia livremente em qualquer região do globo. Para isso, é preciso vencer alguns desafios: As autoridades estatais e seus interesses econômicos próprios, e as nacionalidades das empresas. Para termos de livre comércio, esses dois entraves são os maiores que impedem a ausência de taxas e barreiras não tarifárias entre nações. Há um terceiro ponto que será abordado de forma introdutória ao final, pois será mais aprofundado na "Economia Global III".
Livre comércio é sinônimo de progresso, ou de "dominação" dependendo do espectro utilizado para observar a realidade. Na ótica econômica liberal, a liberdade comercial traz benefícios, pois os preços (em teoria) seriam regidos pelo mercado de forma natural. Sem as dificuldades e tarifas impostas pelos governos, cada país poderia se especializar naquilo que pode produzir de forma fácil e com qualidade. Já numa visão mais protecionista, o valor agregado do produto é importante. Se um país exporta soja, precisará trabalhar muito mais para produzir uma quantidade de soja suficiente que possa equivaler a um produto eletrônico de alta tecnologia, ou à própria tecnologia em si. Assim, países mais avançados industrial e tecnologicamente têm maior vantagem sobre países que dependem de produção e exportação de commodities e produtos mais primários.
A realidade é que hoje o cenário global é de muita retórica no que diz respeito ao comércio internacional. Estados defendem em organismos multilaterais a liberdade das trocas internacionais, mas aplicam medidas protecionistas e barreiras tarifárias ou não-tarifárias para encarecer produtos externos. O Brasil pratica isso com a agricultura européia, a Europa pratica isso com produtos industriais americanos e asiáticos, e por aí vai. E a base de tudo isso é clara: O Estado. Cada país tem uma autoridade instituída, de forma autoritária ou democrática, mas possui alguém responsável por definir as suas regras de comércio. E, as populações e empresas nacionais não podem perder seus ganhos para agentes externos. Assim, os governos utilizam barreiras que dificultam a entrada de produtos importados, e facilitam a circulação interna da produção local.
Para que a Nova Um resolva a questão, há o que foi mencionado na parte Política Global: O fim do Estado Moderno, que aborda a necessidade da supressão das soberanias dos Estados-Nações para instituir uma autoridade superior a eles. E, nesse ponto, é fato que os atuais organismos multilaterais como a OMC e as diversas câmaras de comércio entre países ou blocos econômicos, não conseguem vencer as autoridades estatais, uma vez que a soberania do Governo local é inconteste, e um país protecionista não é muito reativo a medidas de reciprocidade. Tais medidas compreendem no país sobretaxar ou dificultar, na mesma proporção, a importação de outro produto que tenha sofrido barreira para ser importado por uma nação. Tais ações são ineficazes, porque geralmente os Estados já preveem tais punições e fazem o cálculo ao implantar as suas barreiras. Além disso, os organismos multilaterais são ineficazes por não deterem a autoridade. Os protestos nos organismos multilaterais, como a OMC, funcionam pelo princípio da unanimidade, basta um país se opor a alguma medida que vise liberalizar o comércio global, que não se chega ao acordo. Então, não há avanço e as barreiras permanecem.
Portanto, as autoridades de Estados e as nacionalidades das empresas, que estão inseridas em determinado país com sua sede de negócios, acabam minando os esforços para a liberdade comercial. Mas, a maior novidade do séc. XXI quanto à globalização econômica surgiu: As cadeias globais de valor. Empresas tornaram-se grandes, e ficaram maiores que muitas nações do ponto de vista de valor de mercado e de capital incorporado. Essas tornaram-se empresas transnacionais, elas transcendem os limites de Estados, superaram o nível multinacional. As multinacionais por sua vez, atuam em várias nações, mas ainda possuem uma identidade nacional com o país de origem, contudo buscam chegar ao ponto de transcenderem as amarras da nacionalidade, e utilizam a internacionalização da produção, não apenas da venda para isso. O que gera cadeias internacionais (globais) de valor, com a produção de produtos além das fronteiras de países. Mas esse será o tema do próximo artigo.
Fique ligado no Sociedade Inteligente para o próximo texto sobre a Nova Ordem Mundial, e compartilhe esses pensamentos com amigos e familiares.
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