Um piloto, um homem que fez o brasileiro sentir orgulho como nunca, um guerreiro que caiu no campo de batalha: Senna.
A despeito da tentativa de sequestro de símbolos e personalidades, qualquer nação precisa de seus heróis que unam o país em torno do orgulho de pertencimento àquele povo. Muitos heróis brasileiros foram esquecidos propositalmente ou não. Mas há um que transcende a maioria das barreiras políticas e sociais e é praticamente uma unanimidade quando se fala em herói nacional: Ayrton Senna.
Senna foi talvez o último grande gênio do automobilismo. Ele foi capaz de vencer com uma equipe mediana em 1984, e obteve a primeira vitória de sua carreira contra a expectativa de todos. Senna superou a temida McLaren de Prost e marcou já a Primeira Pole Position no sábado, sendo 0,413s mais rápido com sua humilde Lotus.
Eu gostaria de conseguir sair na liderança porque assim você estará livre de qualquer problema na primeira volta. Então, poderei ver o quão rápido posso ir e me controlar a partir daí. Testamos o carro com os tanques cheios e nos sentimos bem, mas não há um plano geral de corrida, teremos que esperar para ver como estarão as condições.
No dia da corrida veio o elemento que o daria o primeiro apelido: "Rain Master" (Mestre da Chuva). A chuva trouxe tensão e incerteza à corrida. Mas o que o mundo não sabia era das habilidades até hoje imbatíveis em pista molhada. Uma amostra foi dada um ano atrás, quando Senna quase ganhou em Mônaco com a pequena Toleman e já chamou atenção dos olhos de James Hunt, ex-piloto e comentarista na época.
Com o talento que Senna mostrou em Monte Carlo no ano passado naquelas condições terríveis, quando ele absolutamente guiou a Toleman com um controle maravilhoso, eu não acho que realmente importa o que o Lotus realmente é! Ele tem um talento prodigioso.
Senna não era um inconsequente e mostrou preocupação com as condições adversas e severas do GP após o fim da corrida.
O grande perigo era que as condições mudavam o tempo todo. Foi difícil manter o carro em linha reta às vezes, e com certeza a corrida deveria ter sido interrompida. Em certo momento, eu quase rodei, como Prost, e tive sorte de continuar na pista.
O jovem piloto no entanto foi corajoso e ante a adversidade não se intimidou, mas teve coragem de seguir adiante e correr contra chuva forte e com um carro abaixo dos seus competidores. Assim, Senna logrou a primeira vitória em Portugal, 1985, e mostrou o que seriam os anos dourados da Fórmula 1 até 1994.
Logo Senna foi contratado pela McLaren e dividiu a equipe com o seu maior rival, Prost. Na McLaren ele colocou todo seu potencial aos olhos do povo brasileiro que parava nas manhãs de domingos ou madrugadas de sábado para assistir suas corridas. Pessoas deixavam de visitar parentes ou chegavam mais cedo, paravam no meio do caminho ou nem saíam, tudo para poder assistir o gênio, o herói.
Fora das pistas, Senna era apenas um homem comum, feliz, rico, filantropo (o Instituto Senna age até hoje na filantropia), crush das mais famosas na época e sonho das mulheres em geral. A representação de um homem temente a Deus, imperfeito, mas honesto e implacável com seus inimigos. Uma de suas falas deixou bem claro esse lado competitivo de Senna, ao ser entrevistado e questionado por seu estilo agressivo de corrida:
By being a racing driver you are under risk all the time. By being a racing driver means you are racing with other people. And if you no longer go for a gap that exists, you are no longer a racing driver because we are competing, we are competing to win. And the main motivation to all of us is to compete for victory. It's not to come 3rd, 4th, 5th or 6th. I race to win [...]
Por ser um piloto de corrida, você está sob risco o tempo todo. Ser um piloto de corrida significa que você está em uma corrida com outras pessoas. E se você não atacar mais por um espaço que existe, você não é mais um piloto de corrida porque estamos competindo, e estamos competindo para vencer. E a principal motivação para todos nós é competir pela vitória. Não é pelo 3º, 4º, 5º ou 6º. Eu corro para ganhar [...]
Outro grande feito de Senna foi a primeira vitória no Brasil, em 1991. Senna liderava em Interlagos, quando perdeu a 3ª, 4ª e 5ª marchas. Os carros na época eram mais mecânicos e não tinham as inúmeras assistências eletrônicas como atualmente. Senna segurou no braço as marchas, com uma caixa de câmbio quebrada, e ao mesmo tempo domou o volante para guiar a sua McLaren para a vitória. A imagem inicial deste artigo é de Senna no pódio desse dia. A cara de Senna é de felicidade e de esforço para levantar a bandeira nacional após o tremendo cansaço nos braços derivado da corrida. Ele alegou que mal conseguiu levantar o troféu que ganhou naquele dia.
Como todo herói e guerreiro, Senna morreu na batalha. Em 1994 a trágica curva Tamburello foi a última de Senna que se chocou violentamente contra o muro de puro concreto. O choque causou uma desaceleração súbita que levou a edemas cerebrais agravados pelo corte feito por uma barra de direção que foi diretamente contra o capacete e atingiu letalmente a têmpora de Senna. Esse foi o fim de semana mais trágico da história da Fórmula 1 com o acidente de Barrichello e a morte no sábado de Roland Ratzenberger. Mas nada preparou o mundo para a perda repentina de Senna que criticou a direção da corrida pela falta de segurança do GP de Ímola, devido o falecimento de Ratzenberger.
Sobre a genialidade e o heroísmo de Senna, não foram necessários monumentos grandiosos (apesar da existência de alguns): O monumento a Ayrton Senna sempre esteve à volta dele. No funeral, milhões prestaram homenagem ao herói que não caiu, mas viveu para sempre na memória de todos. Uma história que deve ser contada por gerações, um orgulho para um povo que teve um verdadeiro herói. Aos mais céticos, um vídeo do programa automobilístico britânico Top Gear fala por si só.
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