O Presidente Lula afirmou em entrevista que a Venezuela é sim uma democracia. Será? Veja a abordagem feita para que a conclusão seja feita.
A Venezuela é uma democracia. Lula, no alto de sua sapiência, falou isso em entrevista a uma rádio gaúcha. Ao ser indagado por um jornalista, que o país do seu aliado, Nicolas Maduro, era sim uma democracia, pois lá haviam eleições regularmente. Contudo, o jornalista que perguntou, retrucou o Presidente e afirmou que ficou preso na Venezuela e que lá não pode ser classificado como democracia. Mas afinal, o país pode ser tecnicamente classificado como democracia?
Ao se observar na antiguidade, a democracia teve sua gênese na Grécia antiga como um conceito mais politicamente estruturado. Assim, a abordagem clássica trazia o conceito mais puro de democracia como o governo das pessoas, no qual todos iriam escolher aqueles que deveriam governar a polis. O conceito é criticado dentro da própria Grécia antiga, por enxergar o despreparo da maioria das pessoas para a vida política, seja por ignorância, seja seu estado de pobreza, poderiam realizar escolhas que não necessariamente eram as melhores do ponto de vista político. Nesse sentido, a evolução humana tratou-se de cuidar um pouco desse ponto da ignorância de muitos, mas ainda assim, pode-se afirmar que muitos continuam obscurecidos com a falta de informação e desconhecimento.
Com isso, para que a República não descambasse em algo autoritário como a República de Roma (que se tornou no Império Romano), ou que o conceito da ignorância popular fosse terreno fértil para extremos como Maquiavel e Hobbes, resultando no absolutismo, o pensamento conservador e liberal que surgiu a partir do séc. XVII, trouxe respostas. Primeiramente no estabelecimento de um Estado racional e na conceituação de liberdade como direito natural humano. Esses dois pontos de partida, limitaram o poder do Estado e foram as bases da democracia moderna. Aqui, apesar da vontade majoritária popular ser respeitada, há a instauração do constitucionalismo e das leis como regras do jogo para ditar as relações sociais e de poder, visando justamente um controle para que não ocorresse os erros passados.
Nesse surgimento moderno da democracia, o conceito democrático oriundo do seu maior exemplo: os EUA. Nos Estados Unidos, a organização republicana democrática casou os dois conceitos de uma república guiada por cidadãos esclarecidos e por sua virtude com a vontade popular majoritária. Isso semeou um modelo democrático que foi tentado replicar (seja por força ou por opção) em todos os cantos do mundo. Dessa forma, o que mais se aproxima do conceito atual, entendendo como atual o conceito democrático dos EUA, o respeito da vontade popular aliado a uma estrutura governamental e social esclarecida que guie esse poder político.
Contudo, ainda assim, nenhum sistema é perfeito, e as falhas na democracia dos dias de hoje são exploradas por setores que acreditam em regimes de governo mais autoritários. Dessa forma, a esquerda trouxe o socialismo e suas várias facetas: desde o nacional-socialismo alemão, aos soviéticos e chegando nos maoístas. Todos partiram do princípio da necessidade de semear a revolta da população, gerada pela semeadura do ódio através de maniqueísmos e da dialética. Assim, o conceito de democracia foi entendido dentro de Estados-Nações de esquerda como a necessidade da existência de eleições meramente (não se autorizando a verificação do processo eleitoral, e perpetuando líderes políticos de um mesmo partido, ou até mesmo tornando presidentes vitalícios).
Porém, essa visão socialista fere a concepção democrática. O próprio Karl Marx afirmava em seus escritos da necessidade da transição autoritária para o objetivo final de uma sociedade comunista. Por outro lado, Gramsci e a concepção de infiltração e ocupação de espaços nas estruturas sociais gerou o que vemos hoje em países que possuem sérios questionamentos quanto à lisura do processo eleitoral, mas são impedidos de aferir, uma vez que a estrutura jurídica se encontra dominada por socialistas. E sem a possibilidade de pacificação no seio da sociedade quanto a um processo eleitoral honesto, transparente e justo, não é possível afirmar que a vontade do povo foi respeitada.
Portanto, observando o sucesso do modelo de democracia dos EUA e sua tradução na construção de uma sociedade imperfeita, mas livre (ao menos a mais livre que se tem notícia na história humana) e bem sucedida, é impossível afirmar que a Venezuela goza desse mesmo exemplo. Na verdade, a "democracia" venezuelana é semelhante aos exemplos fracassados dos soviéticos, com influências gramscianas e maoístas. Parece democracia, tenta-se passar por democracia, mas é na verdade o mais puro suco autoritário.
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