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A insurreição do Grupo Wagner: O levante completo.

Entenda a revolta dos mercenários do Grupo Wagner e os possíveis desdobramentos da crise russa na guerra da Ucrânia.

Há algo em toda guerra que é o momento. Essa palavra aqui é usada para descrever o ímpeto da tropa de acordo com um determinado evento dramático em um confronto. Com esse conceito em mente, cabe observar qual o momento que se estabeleceu após o levante do Grupo Wagner contra o regime de Putin. Quais possíveis consequências para a Rússia e para o front contra a Ucrânia.


1 - A Insurreição

Na sexta a noite (Brasil) um levante do grupo de mercenários foi iniciado na cidade de Rostov. O movimento foi liderado pelo chefe do grupo Yevgeny Prigozhin que já vinha há meses apresentando reclamações ao Ministério da Defesa russo referente ao abastecimento de suas tropas no front do Donbass. Prigozhin, por diversas vezes, trazia em vídeos e documentos protestos por mais suprimentos que, segundo ele, demoravam para chegar em virtude da burocracia estatal e de amarras que o Wagner, como um grupo privado, não precisava se submeter.


Assim, o líder do Wagner realizou um vídeo demonstrando um acampamento de suas tropas destruído. A alegação foi de que o ataque teria vindo do lado russo, portanto, os mercenários não iriam mais aceitar a permanência dos chefes das Forças Armadas russas, principalmente o Ministro da Defesa, Serguei Choigu. Wagner atribuiu a ele a responsabilização pelo ataque, e iniciou a tomada de prédios públicos na cidade de Rostov para estabelecer um posicionamento inicial, e posteriormente marcharia até Moscou para exigir a troca imediata das lideranças militares russas.


A marcha ocorreu relativamente tranquila, inclusive com apoio e saudações de pessoas pelo caminho. Aparentemente, o Wagner chegaria até Moscou. Porém, durante o desenrolar dos fatos, o inicial silêncio de Putin trouxe uma dúvida quanto a como seria o desenrolar dos fatos. Porém, estranhamente, a menos de 200 km de chegar na capital russa, Prigozhin anunciou que a marcha seria interrompida e o Grupo Wagner retornaria para sua base. A desistência veio após um suposto acordo entre Putin e Prigozhin, intermediado pelo Presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko.


2 - O que pode ter acontecido?

A versão oficial foi contada, mas o que de fato pode ter ocorrido que levou a toda essa bagunça dentro da Rússia? Há três versões mais fortes: Uma "false flag" do Grupo Wagner; uma ação russa para eliminar o grupo de mercenários e os problemas que eles vinham causando; uma aproximação do Grupo Wagner com a OTAN para gerar uma confusão interna nas linhas russas e gerar uma janela para a contraofensiva ucraniana. Vamos observar uma a uma aqui.



O líder do grupo Wagner sofria várias acusações na Rússia por crimes desde questões financeiras até envolvimentos com assassinatos e criminalidade ostensiva. Além disso, o esforço de guerra da Ucrânia foi elevando cada vez mais as exigências e demandas dos mercenários. Dessa forma, Prigozhin viu uma oportunidade de tentar trazer mais poder e recursos para seu grupo, o que era visto como ameaça por Moscou. Afinal era um grupo privado que ficaria com muito poder militar e consequentemente, político. Dessa forma, foi costurado o acordo para que o chefe do Wagner fosse para a Bielorrússia e o grupo fosse retirado do front na Ucrânia. Moscou já fala na adesão de soldados do Grupo Wagner ao Exército russo, o que acaba com o problema de resistência das Forças Armadas russas. Mas também há conversas de alterações no alto comando militar em Moscou. Portanto, tratou-se de uma falsa tentativa de golpe para atender a interesses de Prigozhin e tentar um acordo razoável entre os mercenários e o governo russo.


Outra análise traz que o Grupo Wagner foi de fato alvo de um ataque russo que já percebia o perigo, tanto em termos de poder quanto na proximidade que um grupo privado poderia ter com o lado inimigo. Assim, o ataque foi um ato provocativo para que o Grupo Wagner se levantasse e a situação fosse trazida à luz para resolução. É uma espécie de "false flag" russa, pois o governo, nessa teoria, já sabia que o Prigozhin estava tentando se rebelar, e apenas acendeu o pavio para eliminar o problema. Com o acordo realizado ao fim da concertação, a Rússia terá total controle do esforço de guerra e não precisará mais ter a distração de um grupo de mercenários no front. Há reforços para essa tese, principalmente no fato de que foi noticiado por várias agências americanas que o governo russo sabia já do risco de Prigozhin se insurgir.


Finalmente a terceira tese traz o envolvimento da OTAN para a situação. Dias antes da insurreição do Grupo Wagner, o Pentágono afirmou que havia cometido um "erro de contabilidade" e enviado 6,2 bilhões de dólares acidentalmente para o esforço de guerra ucraniano. Há especulações que essa transação "acidental" foi justamente para patrocinar a insurreição de Prigozhin para causar confusão nas linhas russas. Isso traria uma situação de tumulto interno o que abateria o moral das tropas de Moscou, além de ajudar na propaganda contrária aos russos no conflito. A hipótese de envolvimento dos EUA no caso aumentou em virtude de que todos os grandes meios de mídia do Ocidente fizeram questão de salientar que os membros da OTAN foram pegos "de surpresa" com o levante dos mercenários russos.


3 - O que pode acontecer agora na guerra?

E agora? Com toda a confusão gerada nos russos, como ficará o front? Nesse sentido há dois prognósticos mais interessantes sobre o tema: Pouco impactará, e a guerra de atrito continuará, com o impasse no front, ou o evento gerará um momento, conforme dito no começo desse texto, para que haja um desequilíbrio para um dos lados.



Quem observa que pouco impactará no front, vê que Putin conseguiu controlar bem a situação e já atingiu o maior objetivo no conflito. A Rússia sempre buscou estabelecer, desde o início da guerra, a contiguidade territorial entre a Criméia e o território russo. Dentro desse objetivo está o controle do Mar de Azov, o acesso ao Mar Negro e ao Estreito de Bósforo. Com o estabelecimento desse objetivo, agora os russos visam manter a guerra de atrito, enquanto os ucranianos não aceitam que esse território dificilmente será recuperado por completo sem a intervenção direta da OTAN.


Por outro lado, a confusão na Rússia pode gerar um momento bom para a Ucrânia que tenta uma contraofensiva. A moral dos russos pode ter sido impactada diretamente com a visão de enfraquecimento do regime de Putin, com a tentativa de insurreição do Grupo Wagner que conseguiu uma grande conquista na guerra, que foi a tomada de Bakhmut. Assim, o momento para a OTAN insuflar a ofensiva é agora. Aproveitar a mancha na imagem do regime russo e avançar. Se isso se refletirá na realidade, as próximas semanas trarão a resposta.


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