O jornalismo "sério" não morreu, apenas foi desmascarado.
O jornalismo isento é "fake news". Sim, afirmar que se analisa fatos e a sociedade sem viés político-ideológico é uma falácia que por décadas a imprensa empurrou goela abaixo das pessoas, pois não havia um meio de contraponto para dar voz às mídias alternativas e independentes. Essa constatação traz dois pontos muito importantes e graves sobre a suposta "isenção jornalística": o porquê dessa tese de isenção ser importante; e quais as consequências de se ter a "verificação de verdades".
A pose de imparcialidade dos jornalistas é algo tido como inquestionável (por eles), afinal para se ter credibilidade como uma pessoa que não privilegia uns em detrimento de outros, não se pode tomar partidos ou lados. Dessa forma, esses profissionais, via de regra, gostam de se colocar como pessoas sem opinião (o que é impossível ao ser humano, pois parte do pensamento é se posicionar ante a matérias que se apresentam), ou pior ainda, se colocam como pessoas com opinião mas capazes de se distanciarem dessas ideias pessoais para criarem notícias de forma isenta.
Quero dar especial atenção a esse exercício de distanciamento. É como se a pessoa observasse uma tela de um assento à esquerda. Obviamente a tela continua a mesma, mas a perspectiva muda, ao se trocar de lugar e sentar-se à direita da tela, ou ao centro, ou mais à esquerda. Portanto, digamos que a pessoa goste da visão que ela tem da tela mais à esquerda que revela algo não visto de outra perspectiva. Assim, por mais que a pessoa vá para uma posição mais à direita ou à esquerda, ela irá recordar-se das características que pode observar daquele local ideal para si, e isso acaba influenciando sua visão da tela.
Somando-se a essa questão de posicionamento, há jornalistas que ultimamente tem criado um novo instrumento de notícia, a checagem de fatos (prefiro dizer verificação de verdades). Isso é fruto da ascensão de novos meios de comunicação que trouxeram a quebra do monopólio da informação de mídias de marca. Como paralelo gostaria de analogamente demonstrar a ineficiência das agências classificadoras de risco de investimentos no mercado financeiro. Para tanto, precisamos voltar um pouco para a crise de 2008.
Em 2008 houve um dos maiores escândalos do mercado de capitais da história: A queda do Banco Lehman Brothers (considerado inquebrável até poucos dias antes da sua falência). Agências de classificação de risco altamente respeitadas no mercado financeiro, como a Fitch Ratings, classificavam os papéis das debêntures e ações do banco em questão com o nível máximo de segurança poucos dias antes de ocorrer a quebra. O tempo revelou a promiscuidade entre essas agências de classificação de risco e os bancos de investimentos americanos que tinham funcionários que saiam de um banco e iam para essas agências, ou vice-versa, o que gerava uma verdadeira "casta" que definia os rumos de grandes movimentos financeiros.
Feita essa analogia, quanto à verificação de verdades, a pergunta óbvia fica mais clara ainda: Quem definirá o que é "fake news" ou não? Marcas que não são imparciais e possuem sim uma agenda por trás da pose de isenção? E as pessoas que serão as "checadoras dos fatos" também serão envolvidas com esses meios de comunicação? Verificar verdades é na verdade instrumento de censura disfarçado, pois essa checagem é parte de um projeto de supressão de mídias alternativas e independentes que não são atreladas a grandes conglomerados financeiros e interesses de elites (via de regra progressistas e globalistas).
Logo, afirmar que o jornalista é um profissional isento, é sim "fake news". O jornalismo é a profissão que observa e noticia a sociedade. Esse ofício, por não ser meramente observador de uma reação química, ou lei física, mas sim da dinâmica social, não tem como ser isento. A análise social é inevitavelmente enviesada de acordo com as opiniões, princípios e posições dos autores. Além disso, querer dizer o que é verdade ou não, sendo a pessoa checadora da verdade ligada a grupos e também aos seus próprios interesses, torna essa checagem com um vício de origem irremediável. Definir o que é verdade deve sempre ser uma função do recebedor da notícia, através da observação da realidade e assim escolher o melhor meio de comunicação para seu consumo de informação.
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