A "marolinha" que se tornou um Tsunami interminável ao Brasil.
As imagens acima são capas da revista The Economist, uma das mais renomadas revistas no assunto economia, conhecida globalmente. Apesar das capas que aparentemente são antagônicas, trarei uma breve dissertação a respeito de como na verdade a primeira (à direita publicada em 2009) levou inevitavelmente à segunda (à esquerda publicada em 2015). Em outras palavras, como o sucesso econômico dos anos 2000 colaborou para a crise econômica atual. Esse exercício passará pela demonstração de dados baseados na minha pesquisa de graduação que me sagrou aprovado, bem como contribuições de autores renomados.
Para isso deve-se entender alguns mecanismos básicos de economia que ajudam muito a compreensão do problema em voga.
A lei da oferta e da procura é fundamental. Quanto mais de um produto no mercado, em tese, mais barato ele será (por ser mais comum, menos exclusivo e provavelmente de maior aceitação). Contrariamente, quanto menos de um produto, em tese, será mais caro (mais raro, exclusivo e a escassez gera uma procura maior por oferta).
Internacionalmente, a moeda de troca é o dólar (dos Estados Unidos, que será nomeado aqui USD - United States Dollar).
Ciclos econômicos são os movimentos de subida e descida da economia, que funcionam como uma onda, com altos e baixos de acordo com variáveis de diversas origens.
Quando se observa a logística do Brasil é todo o aparato nacional para transporte de cargas (caminhões, navios fluviais e marítimos, trens - quase inexistentes mas tem -, etc.).
Investimento externo direto compreende um investimento vindo de fora do Brasil diretamente no setor produtivo, como a instalação de uma fábrica, montadora, empresa para prestar serviço, entre outros.
Câmbio é a relação entre uma moeda estrangeira e o Real Brasileiro (nomeado aqui BRL - Brazilian Real). Quando se falar em câmbio de modo geral será a relação entre BRL e USD, caso não seja essa a relação será explicitada.
Agências internacionais de classificação de risco financeiro compreendem empresas multinacionais que atuam no mundo inteiro e classificam investimentos em todos os países através de suas notas, rotulando determinados países como seguros para se investir ou não, a depender de fatores que de modo geral indiquem a capacidade desses em cumprir com seus compromissos financeiros (pagar suas dívidas).
De início, voltemos os olhos para os prósperos anos 2000. Prósperos devido a uma confluência de fatores que favoreceram um crescimento por quase uma década. Veja a seguir as variações do PIB no período.
Desconsidere as barras laranjas e atente-se somente às azuis. Elaborei esse gráfico durante minha pesquisa de conclusão de curso, e podemos observar no período de 2003 a 2008 crescimentos interessantes. Mesmo no primeiro ano considerado é um bom resultado se considerar a crise que afligia o Brasil até 2002. Sem falar no maior crescimento do PIB desde o milagre econômico da década de 1970, no ano de 2010, com 7,5% de alta do PIB. Portanto, de fato foi um período próspero. Porém, a pergunta que todos hoje em dia se fazem é: Por que acabou? Por que o crescimento visto nesse período é uma realidade distante em 2016? A resposta passará pelos tópicos explicados anteriormente e em fatos que serão trazidos à tona.
Essa análise não pode fugir de uma característica básica do capitalismo: O comportamento cíclico. Nossos modo de produção é baseado justamente nesses momentos de altos e baixos (por mais que muitos critiquem isso). Veja só, na década de 1980 o Brasil estava saindo de um ciclo de crescimento forte, e entrou em uma forte recessão somada à inflação galopante. Na década de 1990 houve um breve ciclo de recuperação até 1997, quando a especulação em cima de mercados de países em desenvolvimento asiáticos novamente levou o Brasil e outros como a Rússia e a Argentina juntos. Novamente, no ano de 2003 a economia demonstrou sinais de recuperação e aí se seguiu o visto no gráfico. Tal exemplo é bem a grosso modo apenas com fim ilustrativo dessa realidade, porém observa-se no gráfico que ao final dos anos 2000 o Brasil teve um forte crescimento e depois passou a diminuir até 2013. O que se seguiu é mais recente, com o início da recessão em que vivemos de 2014 pra cá. Anos 2000, a prosperidade que teve seu custo Por que o crescimento dos anos 2000 colaborou para a atual recessão? Para isso é preciso olhar por detrás do crescimento econômico que vivemos. Já adianto que não pude encontrar nenhum amparo técnico-científico do referido postulado. Após pesquisas, observei que devido ser um fato recente, a atual crise econômica não é objeto de muitos estudos, provavelmente há a espera para o desenrolar dos fatos. Sendo assim, o que farei aqui é apenas uma base de raciocínio de acordo com dados referentes ao período de crescimento econômico até 2010.
Primeiro é preciso identificar os alicerces que trouxeram a prosperidade ao Brasil no período. Cabe salientar inicialmente a política progressiva de redução dos juros implementada. No final de 2003, segundo dados* do próprio Banco Central, a taxa básica de juros (SELIC) estava em 16,5%. Praticamente dez anos depois, a taxa registrava seu menor patamar a 7,25%. Uma redução de mais de 50% dos juros. Mas o que isso gerou ao país? Para essa compreensão, vamos entender o que é juro.
Existem diversas teorias que tentam explicar porque os juros existem. Uma delas é a teoria da escola austríaca, primeiramente desenvolvida por Eugen von Boehm-Bawerk. Ela afirma que os juros existem por causa da manifestação das preferências temporais dos consumidores, já que as pessoas preferem consumir no presente do que no futuro. (GIOVANNI; GIOVANNI JÚNIOR - 2005 -, citado por MOREIRA et. al, 2010)**.
Tá legal, traduzindo agora: As pessoas querem comprar as coisas hoje e não amanhã. Quando você pensa: Preciso comprar um carro. É uma necessidade que você provavelmente não irá esperar de 4 a 5 anos para juntar dinheiro e conquistar seu desejo (e isso sem considerar a desvalorização do dinheiro guardado, ou seja, a inflação). Portanto, para adquirir o bem desejado e no tempo desejado, as pessoas precisam do dinheiro de forma imediata. As instituições financeiras, sabedoras disso, oferecem os empréstimos que possuem diversas modalidades (leasing, CDC, empréstimo direto, etc.). Porém o dinheiro ofertado pelo banco, ou qualquer outro órgão autorizado a fazer isso, é um produto (lojas de roupas vendem roupas, concessionárias de automóveis vendem carros e bancos vendem a capitalização - o dinheiro - para você adquirir o bem). Assim, o juro é, a grosso modo, o que você irá pagar para ter o produto do banco. Mas o dinheiro é um produto de reuso, ou seja, é utilizado e devolvido. Por isso após comprar o bem, além dos juros contraídos é preciso pagar o dinheiro emprestado.
Compreendido isso, quanto mais caros os juros, mais difícil ter dinheiro. Quanto mais baixo os juros, mais fácil ter dinheiro. Assim, o Banco Central busca controlar esse fluxo de dinheiro em circulação através dos juros no Brasil, tornando o dinheiro mais caro com a alta dos juros, ou mais barato com a baixa. Juros altos são sinônimo de custo alto, crédito baixo e economia retraída (o que vivemos hoje). Mas como vimos o histórico de queda dos juros básicos da economia nos anos 2000 até 2013, o crédito foi facilitado muito e as pessoas contraíram dívidas (pessoas físicas e empresas também). Essa abundância de crédito estava sustentada no segundo ponto em que era pautado o crescimento do período: aumento da produção brasileira.
Com o crescimento da produção econômica brasileira nos anos 2000, a taxa mais baixa era possível de ser sustentada com a necessidade de mais dinheiro em circulação. Essa questão também afeta a inflação no Brasil. Pois, o Brasil controla a inflação basicamente através dos juros. Isto é, o Banco Central controla a demanda por moeda fazendo ela ficar mais cara ou mais barata. Basta lembrar da lei da oferta e da procura: Quanto maior a oferta, menor será a procura proporcionalmente e por conseguinte menor o preço, sendo o pensamento inverso verdadeiro também. Assim, se há mais moeda no mercado, ela é mais barata, ou seja, será preciso mais dinheiro para comprar um mesmo bem, sendo isso a inflação. Por exemplo: Você quer comprar um tomate que custa R$ 3,00/kg, com a inflação (desconsiderado fatores distintos) no mês seguinte esse preço irá aumentar (R$ 4,00 supondo). Veja que o bem é o mesmo, mas o dinheiro se desvalorizou, o que leva a ser necessário mais moeda para comprar o tomate.
Há outras formas de controlar a inflação sem mexer com juros, porém no Brasil as condições estruturais socioeconômicas precisariam de mudanças profundas para viabilizar isso. E aqui está um ponto chave que ligará o crescimento dos anos 2000 com a atual crise, que será retomado a frente.
O último ponto que irei destacar como propulsor do crescimento econômico nos anos 2000 foram os incentivos fiscais dados a diversos setores produtivos. Ouviu-se notícias afora falando sobre a isenção de impostos como IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) principalmente nas indústrias de automóveis e da linha branca. Porém cabe salientar que essas medidas foram mais em resposta à temida desaceleração que poderia ser causada em virtude do tsunami que foi crise econômica dos EUA em 2007/08, o qual foi intitulado pelo então Presidente Lula como uma marolinha para o Brasil. A política, nos anos de 2010 - e pode-se dizer também em 2011 - surtiu efeitos positivos, sendo dois anos de crescimento. A ideia básica era reduzir impostos para fomentar a atividade industrial e sustentar a economia através do aumento, ou ao menos manutenção do setor. Não apenas no setor industrial, mas a famigerada CPMF também teve seus dias contados no início de 2008 desonerando as transações financeiras, incentivando atividades como contração de empréstimos, transferências, compra e venda de produtos financeiros etc. Completando o ciclo, já com a atual Presidente Dilma, houve a redução dos custos da energia elétrica em 2012/2013, com a ideia de baratear o consumo de bens eletro-eletrônicos, mas principalmente o custo energético de produção da economia. Onde estava o erro? Ótimo, comentei os principais pontos que considero para o período próspero que vivemos antes do início da atual recessão. Agora a pergunta: Onde erramos? Vamos de trás para frente. Falando inicialmente na questão fiscal. Algo que precisa estar claro é que o uso de incentivos fiscais não garante crescimento econômico. Uribe (2016)*** salienta as abundantes críticas aos benefícios fiscais como meio ineficaz e defeituoso quando é usado de forma inapropriada. E os benefícios fiscais citados foram feitos de forma inapropriada? Bem, a meu ver foram. Pessoalmente sou contrário a "benefícios" fiscais. Caso um governo deseje incentivar um setor a produzir ou reestruture o fisco ao redor desse setor, ou use demais meios para incentivar a produção. Mas por que essa visão? A verdade é há características dentro do benefício fiscal que o tornam mais um mal do que um bem. Uribe (2016) destaca também que todo benefício fiscal é um gasto do governo em termos práticos (a arrecadação que deixa-se de obter é sentida no balanço de pagamentos do Estado pela ausência da receita que geraria). Finalmente, o incentivo é de caráter temporário. Por mais que há vezes em que não se vislumbre um momento do fim do benefício, não é algo permanente, e isso gerará no retorno da cobrança do tributo o esfriamento da atividade beneficiada.
Seguindo, a questão dos juros. De fato, os juros baixos incentivam a produção, tanto por tornarem o crédito mais acessível (o dinheiro fica mais barato para emprestar) e também por tornarem investimentos produtivos mais rentáveis comparando a investimentos financeiros. Porém isso não ocorreu. Não ocorreu por um problema estrutural econômico brasileiro que estagna muito mais nossa economia: Produtividade. Essa análise a seguir é um exercício de raciocínio próprio meu, sem embasamento. A baixa dos juros incentiva a produção, mas também incentiva a inflação, uma vez que o dinheiro é de maior acesso e fica com valor menor (lembre a questão do tomate). Mas caso a produtividade seja aumentada, o impacto da inflação é diluído pelo aumento da produção. Foi isso que possibilitou ao Brasil passar pelos anos de crescimento com diminuição de juros. Então, chegou-se ao topo da "montanha russa" que não podia continuar subindo. Essa inviabilidade, a meu ver encontrou dois limites: a produção não aumentou pela falta de infra-estrutura precária do país que atingia seu limite de escoamento (basta lembrar as filas infindáveis de caminhões nos portos); e também a recuperação da economia dos Estados Unidos da crise de 2008, atraiu muitos investimentos de volta ao país do Tio Sam. Assim, a produção começou a cair, porém a pressão inflacionária manteve-se pelos custos altos de produção no país (carga tributária, custo alto de frete e gargalos de espera), bem como a falta de investimentos em projetos que foram já em muito especulados na economia sem ao menos a garantia do retorno (caso de Eike Batista e suas empresas do pré-sal é um exemplo). O que mais deu errado? Esses motivos citados são mais diretamente ligados ao período próspero, mas há outras considerações a se fazer. Falaremos agora da taxa cambial (BRL x USD), gestão dos recursos públicos e dependência brasileira externa.
O câmbio no Brasil é como chamamos de "flutuante", isto é, o mercado é quem dita os valores de troca entre o Real e o Dólar de acordo com as demandas das respectivas moedas. Nesse sentido Barbosa (2014)**** observou que a desvalorização excessiva do Real nessa troca gera condições que minam o crescimento econômico. E como o Real se desvalorizou a partir de 2013? Como já dito, os Estados Unidos começaram uma recuperação econômica da crise financeira de 2008, isso passou a gerar mais recursos e maior atividade na economia norte-americana. E com isso, para também evitar uma inflação além do desejado, os EUA indicaram uma tendência de aumento de seus juros. Isso impacta em que o Brasíl? Os investidores em geral tem aversão ao risco, e investir nos Estados Unidos é bem mais seguro do que no Brasil. Dessa forma, começou-se a ter uma fuga de dólares do país (e isso ocorreu na maioria do mundo). Com menos USD na economia, o BRL se desvalorizou (lei da oferta e demanda). Essa desvalorização prejudica também, segundo Barbosa (2014), a capacidade do governo em pagar dívidas no exterior. Essas são contraídas via de regra em USD. Mas o Governo arrecada em BRL, precisando realizar a conversão para cumprir com os compromissos. Então, a dívida torna-se mais custosa para ser paga. Veja o exemplo:
O Governo tem uma compra de maquinário junto a uma empresa dos EUA para um determinado programa. Contratualmente, feitos os trâmites legais, foi estabelecido o valor de US$ 1.000.000,00 para a compra. Na época do contrato, USD era R$ 2,50 por unidade, assim o Governo irá desembolsar R$ 2.500.000,00 (fora custos de importação e logística). Mas com uma valorização do dólar, digamos que o USD passe a valer R$ 3,00. Aí a compra passará a valer R$ 3.000.000,00.
Não acontece dessa forma (antes que se levantem os questionamentos) geralmente as questões cambiais são tratadas e estabelecidas de forma a dar previsibilidade de gastos governamentais e ganhos do contratado. Esse exemplo é apenas para entender como o câmbio afeta dívidas governamentais. Barbosa (2014) finalmente elucida o impacto da desvalorização do BRL como fator contribuinte para aumento da inflação. Como o retorno de um investimento feito no Brasil é menor com a moeda nacional desvalorizada, o investidor estrangeiro irá cobrar mais caro para custear projetos, e assim um efeito em cascata pode ser gerado quanto a valores e aumentando a inflação. Outra questão que afeta a inflação é que a maioria dos produtos industrializados brasileiros possuem algum componente importado (fruto da nossa defeituosa industrialização). Isso inevitavelmente impacto o preço dos produtos com o dólar mais caro.
Outro ponto importante do que mais deu errado é a gestão dos recurso públicos. E aqui não irei entrar na questão da corrupção, vou falar meramente de gestão de gastos públicos. Muitos falam que o Brasil possui uma carga tributária alta. Não é verdade! Você se pergunta: Como assim? Nossa carga tributária é no patamar de muitos países que "dão certo e muito obrigado": Suécia, Noruega, etc. Mas não temos nada parecido com o que esses "paraísos em nível de vida" vivem. Aí não é culpa da tributação do governo, mas sim da incapacidade desse retornar os impostos pagos em serviços de qualidade como saúde, educação, lazer, segurança, etc. Para corroborar a argumentação iremos nos remeter a outro estudo de Barbosa (2014)*****.
Nesse estudo, há a avaliação da variação dos gastos orçamentários de uma pasta do governo e como isso implicou no serviço que essa se destina a prestar. As conclusões foram que de fato o serviço prestado é ineficiente para as necessidades observadas, porém não pela falta de recursos, uma vez que o autor esclarece a necessidade de baixo investimento relativo para trazer um serviço minimamente satisfatório. Barbosa identifica duas questões: a primeira é um comprometimento excessivo dos gastos com custeio de pessoal e compromissos não diretamente relacionados com o serviço final, além de má gestão na alocação de recursos, já que a maioria são fixos e de natureza vinculada (não podem ser alterados).
Desse modo, sabe-se que o sonho de muitos brasileiros é passar em um concurso público que oferecem salários muito acima dos praticados no mercado privado. A parte do mérito de ser isso certo ou errado, o custeio com pessoal é o principal sinal de má gestão, já que sabe-se que há muitos salários que extrapolam o teto constitucional com benefícios esdrúxulos, como um dos meus favoritos no sarcasmo com o contribuinte, o "auxílio paletó" (como se o salário do servidor já não fosse mais que suficiente para adquirir um). E fechando a questão, há a dificuldade em traduzir os recursos alocados para a prestação direta do serviço. Não preciso levantar muitos argumentos, basta apenas pedir para você fazer uma busca nas obras inacabadas do Governo, bem como projetos parados por meses e até anos. Assim, a má gestão de recursos não oferece os serviços da forma ideal, e também por vezes precisa de mais dinheiro do que primeiramente previsto para concluir projetos, levando igualmente ao gasto excessivo e desperdício de receita.
Por fim, a dependência externa. Retomando Barbosa (2014)**** no seu estudo sobre agências de classificação de risco, o autor identifica que o Brasil não possui uma poupança interna suficiente para custear os investimentos no país. Agora cabe retomar a questão levantada no artigo anterior que falei a respeito de poupança. Mas por que o Brasil depende do exterior para crescer? A resposta se encontra nos escritos de Pastore (2010). O autor, ao trabalhar a relação entre crescimento econômico e os níveis de poupança, conclui que:
[...] as poupanças externas são predominantemente usadas para elevar a capacidade produtiva, contribuindo para o crescimento econômico. (PASTORE, 2010, p.6). (BARBOSA, 2014, p. 36).
Isto é, para conseguir mover projetos que realmente elevem a produtividade do país, o Brasil depende de recursos externos. Mas por que não temos isso aqui em nosso território? Pergunte-se:
Você tem seguro de vida?
Você tem plano de saúde privado?
Você faz seguro do seu automóvel?
Você investe no mercado de capitais?
Você compra títulos do governo?
Você tem quanto na poupança?
Essas perguntas revelam que a maioria dos brasileiros não fazem nada disso. Quando muito guardam dinheiro na poupança (que rende menos que a inflação) ou fazem um seguro de automóvel pelo medo do prejuízo em uma batida ou roubo. O dinheiro que você aplica no banco, que você investe em ações, ou outros papéis financeiros, seguros de vida, planos de saúde, etc. são serviços que não necessariamente você utiliza de fato, apenas de direito. Explicando, não é porque pagou um seguro do seu carro que irá ter que utilizá-lo durante a vigência, mas terá o direito de fazê-lo caso precise. Essas quantias são fontes de poupança para uma economia, já que passam a ser capital (dinheiro) que a princípio não há intenção em remover o depósito feito. Isso possibilita às instituições financeiras, respeitando regras estabelecidas, utilizarem esse capital como forma de financiarem outras pessoas ou projetos. Por isso que Barbosa (2014)**** identifica a alta dependência da boa classificação do risco financeiro do Brasil a um bom nível de IED (Investimento Externo Direto), o qual é usado para movimentação do setor produtivo da nossa economia.
Com a queda do IED nos últimos anos, devido à recuperação dos Estados Unidos, a deterioração econômica nacional, também influenciados pelo câmbio (como já expliquei), e os rebaixamentos recentes das notas de risco financeiro do Brasil por agências como a Standard & Poor's, a torneira dos investidores externos fechou-se, e assim a produtividade caiu, levando à ausência de capital na economia disponível para investimento. Isso ocasiona também a redução de linhas de crédito e aumento de juros praticados por bancos e financeiras.
Até quando?
Adivinhar o futuro é uma atividade que cabe a cartomantes, adivinhadores de sorte, etc. Não cabe a mim levantar um cenário futuro certo sobre quando que a atual crise deverá passar. Posso até fazer um exercício especulativo, mas sem nenhum compromisso com a realização do que irei "chutar". Então, vamos lá:
Creio que ao menos até 2017 os tempos não serão fáceis. Isso devido ao cenário interno e externo. Internamente o país passa, além da crise financeira, por uma séria (talvez até mais grave) crise política. Com um governo sem base aliada coesa para aprovar pautas importantes que ajudariam as contas a fecharem (e tenho minhas dúvidas se querem isso), a incerteza é grande. Além disso, na minha opinião, há um equívoco na política de recuperação aplicada pelo atual governo. Sabe-se que aumentar impostos não ajuda a resolver o governo a ter mais dinheiro. Isso porque aumento de impostos, via de regra (e é o que observamos hoje) esfria a economia por desestimular e encarecer a produção. Mas o que vivemos não é apenas um aumento de impostos, mas como o fruto da política de incentivos fiscais e reduções tarifárias irresponsáveis, agora o Governo tenta recompor a receita eliminando incentivos concedidos (que é o mesmo efeito de aumentar impostos).
Sem dinheiro para custear os serviços que deveria prestar, há uma precarização ainda maior do que o Governo deveria oferecer, o que piora também a economia (como exemplo, não há como a Administração Pública manter e muito menos ampliar a estrutura logística do país, o que ajudaria muito o crescimento econômico). Ao invés de aumentar impostos talvez a solução possa passar pelo corte real de custeio, com redução de benefícios (que possam ser reduzidos) e também reestruturação da máquina pública com a eliminação dos apadrinhados políticos em cargos comissionados (Sonho meu!). Esse cenário interno acrescido da total desconfiança que há na economia e na política, é bem denso e levará um tempo para se dissipar. Coloco até 2017 baseado nisso, por ser um ano pré-eleitoral, no qual o Governo ou resolverá a crise econômica e a política também, ou então correrá um risco seríssimo de não continuar comandando o país nas eleições de 2018, além de ser um tempo razoável para que se tenha uma melhor visão do estrago causado pela atual recessão.
No cenário exterior, há a dependência de atração de investimentos, além dos resultados de importantes parceiros como a Argentina, a China e a União Europeia. Não coloquei os Estados Unidos, porque esses estão entrando em uma nova fase de crescimento, e é bem provável que sustentem isso até 2017. Já os países e bloco citados são importantes para analisar se o Brasil com um câmbio desvalorizado (favorável para exportação) poderá tomar vantagem do bom desempenho desses e, como internamente a atividade econômica está fraca, usar o crescimento desses para incentivar a produção voltada para exportação levando a reativação da produção. Além disso, Argentina e não posso esquecer da Rússia são países no mesmo patamar brasileiro (economicamente), assim seus desempenhos nos próximos anos de certa forma, elucida alguns pontos para avaliar nosso possível desempenho.
Quanto aos EUA, o Brasil precisa observar as intenções de elevação de juros, pois quanto mais alto os juros lá, pior será para nós, já que investir no Tio Sam será mais atrativo do que aqui (mesmo com juros bem mais baixos, um aumento significa mais ganhos em uma economia vista como muito mais segura). Até 2017 será um prazo para avaliar se o câmbio irá se manter nesse nível que favoreça às exportações, e também para que o novo presidente dos EUA coloque sua política econômica em jogo, o que poderá trazer boas ou más consequências para o Brasil, é preciso aguardar para ver.
Como visto, não dá para prever o futuro, portanto foquei o texto na análise do que aconteceu até agora. Não coloquei muitas questões mais profundas que também contribuem de alguma forma para o atual cenário de crise (sim, apesar desse texto enorme), como desindustrialização do país, dependência de produção agropecuária e de produtos com preços muito variáveis, entre outras questões. Apenas dei uma luz no que, a meu ver, levou a nossa atual situação. Espero ter contribuído, e aceito visões divergentes que respeitem o meu pensamento, assim como respeito a divergência.
FONTES CITADAS: * Dados disponíveis em: http://www.bcb.gov.br/?COPOMJUROS ** MOREIRA, Fernando Ricardo, et al. JUROS: Conceitos e Aplicações. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.6, n.9, 2010. *** URIBE, Rafael Uribe. LOS GASTOS FISCALES O INCENTIVOS TRIBUTARIOS. Contaduría Universidad de Antioquia, n. 37, p. 127-152, 2016. **** BARBOSA, T. M. L.. As Agências Internacionais de Classificação de Risco e a Influência de suas Notas na Economia. (Monografia de Graduação), IESB, 2014. ***** BARBOSA, T. M. L. As Variações Orçamentárias e o Poder Dissuasório: Uma análise comparativa dos gastos e as implicações na capacidade operacional da FAB. XI Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional, Resende - RJ, 2014.
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